Somos tão Jovens

Renato Russo foi uma das maiores figuras do rock nacional, e não há dúvidas quanto a isso. Influenciado pelo rock britânico, filosofia e literatura, foi a peça principal para o surgimento do movimento de bandas conhecido como Turma da Colina, e responsável por bandas como o Aborto Elétrico e a Legião Urbana, na qual consagrou-se como vocalista, letrista, e para muitos um poeta.

Somos Tão Jovens, filme de Antonio Carlos da Fontoura, mostra uma imagem de um dos principais personagens desse movimento ao público: a vida de Renato Manfredini, em seus vinte e poucos anos, e suas ideias no centro de Brasília para criar uma banda de rock com influência do punk britânico, além de sua ascensão pessoal, retratando um tempo que passou, mas ainda não esquecido.

Em pleno fim dos anos 70, quando o Brasil vivia em uma época marcada pela decadência da Ditadura Militar, Somos Tão Jovens retrata um Renato Russo jovem, a criação do Aborto Elétrico, banda de rock criada ao lado dos irmãos Flávio e Fê Lemos, e de André Pretorius, o surgimento de outras bandas como a Plebe Rude, Blitz, Capital Inicial e a própria Legião Urbana, além de suas descobertas pessoais e suas relações de amizade com sua amiga Ana, com quem divide diversos momentos mostrados no filme: seus interesses amorosos, sua amizade e seus pensamentos, e consequentemente suas desilusões, brigas e temperamentos, além de sua relação familiar. O filme é um ótimo retrato da juventude entre 77 a 85 em Brasília, em uma época de mudanças do nosso próprio país.

A trilha sonora do filme não poderia ser diferente, e é um deleite para os fãs de Renato Russo. Desde o início do filme vemos inúmeras faixas para representar os acontecimentos, e a lista não é pequena:Tempo Perdido, Ainda é Cedo, Geração Coca-Cola, Que País é Esse?, algumas versões de músicas comoEduardo e Mônica e Faroeste Caboclo, e menções a outras como Meninos e Meninas e Tédio. Isso sem falar de outras músicas como Veraneio Vascaína, sua contribuição para o Aborto Elétrico, e muitas outras. O mais interessante é como as músicas foram inseridas no filme: boa parte delas foi tocada pelos próprios atores durante a gravação do filme.

O que chama a atenção no filme sem dúvida é a atuação de Thiago Mendonça, no papel de Renato Russo. Além da semelhança e de ter emprestado sua voz no repertório do filme, Mendonça usou e abusou dos trejeitos de Renato no filme, chegando a transformá-lo um personagem completamente caricato – e isso pode incomodar muitos fãs, mostrando de longe quem era Renato Russo. O destaque mesmo vai para Laila Zaid no papel de Ana, talvez a única (além de Thiago Mendonça) que mostra profundidade em uma personagem, sendo o principal apoio do filme. A escolha dos atores para os demais papeis pela semelhança aos integrantes das bandas Aborto Elétrico, Plebe Rude, Capital Inicial e a própria Legião Urbana também é um detalhe interessante, mas dispensável. Outro fator que leva o filme a uma grande imersão é a sua fotografia, mostrando uma Brasília oitentista e fazendo jus ao cenário do filme.

Somos Tão Jovens é um filme interessante para todos que um dia curtiram as letras de Renato Russo que sempre apareceram entre essas bandas. Além disso, o filme é uma ficção baseada na biografia de Renato, e isso pode incomodar seus fãs e aos que levam o rock nacional dos anos 80 a sério por não mostrar com fidelidade os fatos relacionados ao movimento da Colina e à Legião Urbana – o filme não faz menção alguma, por exemplo, à participação de Renato Rocha como integrante da banda em nenhum momento. Quem assistiu o documentário Rock Brasília pode perceber isso com facilidade. No geral, é um filme feito para os fãs de Renato Russo e da Legião Urbana, e com certeza agrada a todos.