sábado, 12 de maio de 2012


Fast terapia ou junk terapia?


Planeta Sustentável
Conteúdos 
Terapias, psiquismo

Habilidades 
Identificar aspectos dos processos terapêuticos sobre o psiquismo

Tempo estimado
Duas aulas

Se estivesse vivo, Sigmund Freud cairia do sofá ao saber de um método terapêutico que declara curar males físicos e psíquicos numa única sessão de apenas uma hora. E Jacob Levy Moreno, criador do psicodrama, provavelmente sairia de cena, enciumado, diante da rapidez dos resultados prometidos pela Constelação Familiar, também baseada em representações teatrais. A reportagem focaliza esse método terapêutico, desenvolvido pelo ex-padre alemão Bert Hellinger. Resta saber se a intervenção acelerada realmente funciona.

É esta a questão central: é possível substituir um minucioso trabalho de reestruturação do psiquismo do paciente por um método de cura que promete resultados em apenas uma sessão? Para muita gente, fast food, comida rápida, é sinônimo de junk food, comida-porcaria; será que esses termos também se aplicam aos processos terapêuticos?

Use o texto como base para confrontar as ideias dos estudantes acerca do que seja uma "terapia" com o sentido original da palavra. Além disso, o enfoque do psicodrama, mencionado na reportagem, remete à tese aristotélica que delineia o teatro como meio de catarse das emoções. Assim, a aula trará para a discussão a questão antiga da psique e a moderna dos sentimentos que, somatizados, provocam o mal-estar corporal.

Atividades 
1ª aula - Divida a turma em grupos de cinco alunos e peça que escrevam em uma folha a frase que, para cada grupo, define a palavra "terapia". Marque um tempo de 5 minutos para a atividade e, em seguida, recolha as folhas. Só depois desse primeiro passo é que o texto de VEJA deve ser lido.

Explique que "terapia" provém do vocábulo grego therapós, que significa servo, servidor. Logo, para os gregos, o terapeuta era aquele que auxiliava seu senhor em todas as coisas de que este necessitasse. Estimule o debate: ainda é possível estabelecer relações com o papel que o terapeuta desempenhava na Antiguidade? Em que medida a sociedade moderna vê a terapia como tábua de salvação para todos os nossos problemas? No decorrer da discussão, procure mostrar que terapia e psicanálise (em suas vertentes freudiana ou junguiana) não são necessariamente a mesma coisa, mas que a psicanálise, assim como a Filosofia, podem funcionar como terapia. É o momento oportuno para entender como a Constelação Familiar, que declara ter raízes nas concepções de Freud, Jung e Moreno, é criticada pelos adeptos desses pensadores.

Informe que, em seu célebre texto Tipos Psicológicos, escrito em 1921, Jung propõe a arte como recurso importante na clínica, já que torna conteúdos internos acessíveis e, assim, aproxima-os da compreensão, "impedindo a perigosa cisão entre consciente e inconsciente". Nesse sentido, as artes dariam vazão a emoções em que a verbalização sozinha seria limitada. Contudo, para Jung, a interpretação não é a única possibilidade, mas o processo criativo em diferentes atividades artísticas. Proponha pesquisas na internet ou na biblioteca sobre os tipos psicológicos estabelecidos por Jung: a turma vai verificar que usa os termos "extrovertido" e "introvertido" provavelmente sem conhecer sua origem.

2ª aula - Focalize o psicodrama, técnica de psicoterapia de grupo retomada pela Constelação Familiar. Encenar a própria vida é possível? Interpretar não é sempre colocar um personagem em cena? O que significa interpretar a si mesmo?

Tendo como pano de fundo essas questões acerca da possibilidade de representar a si mesmo, recupere o legado aristotélico acerca da catarse provocada pelo drama. Lembre que Aristóteles via o teatro como instrumento de educação em que o ator, no palco, representava um personagem, ou seja, uma outra pessoa. Logo, por definição, a representação coloca em cena tipos distintos dos próprios atores. Quem atua, empresta o corpo para o texto de um autor. Ainda para Aristóteles, a função do teatro é catártica, ou seja, fazer com que a plateia experimente as dores e as alegrias pelas quais passam os personagens, de modo a conseguir lidar da melhor maneira possível com as próprias paixões ou, como se diz hoje, com as emoções. Em outras palavras: sentindo ódio, compaixão, medo e alegria em relação aos personagens, ao voltar para casa, o espectador se sente mais "leve", com uma sensação de bem-estar que a liberação de risos e lágrimas provoca. Não é à toa que a palavra "catarro" é derivada de catarse, que, por sua vez, literalmente, significa "aquilo que sai". Informe que a psicanálise pretende, por meio da verbalização, desvendar os nós do psiquismo que tolhem a liberação dos sentimentos, enquanto algumas terapias visam simplesmente auxiliar a pessoa a sentir-se bem e a se desvencilhar do peso de preocupações cotidianas.
A Escola de Atenas: o detalhe do mural do pintor Rafael retrata a diferença de foco entre Platão (à esq.) e Aristóteles (à dir.). Enquanto o primeiro pensava no metafísico, o segundo buscou o mundo concreto e material e acabou virando o "pai da psicologia". Foto: reprodução
Nessa perspectiva, a Constelação Familiar poderia ser um desses métodos de intervenção menos abrangentes. Entretanto, ambição não lhe falta: ela não se propõe somente como "terapia emocional", mas também como alternativa na compreensão e no tratamento de problemas corporais. Ora, pensar o homem como um ser integral, em que um corpo saudável explicita uma alma (ou mente) saudável não é privilégio da medicina moderna, que comprovou a somatização de doenças com origem emocional. A Filosofia antiga, embora compreenda corpo e alma como elementos diferentes, não os vê desmembrados, pois o homem é um conjunto inseparável. Ele só é homem porque possui uma parte invisível que pensa e outra visível que responde a esse pensar.

Questione a classe sobre a possibilidade de cura pelo método da Constelação Familiar: será que uma sessão basta para desvendar o que nos faz mal? Recorde a trajetória de Sócrates que, para conhecer a si mesmo, passou a vida inteira interrogando os cidadãos atenienses.

Proponha que os jovens investiguem quanto tempo costumam durar as terapias freudianas, junguianas e a psicoterapia de grupo. Será possível verificar que mesmo as mais rápidas exigem muito mais que uma sessão - e, talvez por isso, apresentem resultados mais confiáveis que o método do ex-padre alemão.

Para terminar, pergunte se os grupos ainda concordam com a frase que haviam inicialmente escrito sobre o significado de terapia e peça que elaborem outra, de acordo com o que pensam agora.

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