domingo, 27 de maio de 2012

A crença no amor romântico é uma ilusão?



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© Henri Cartier-Bresson/Magnum Photos.
Este post é dedicado a todos aqueles que neste dia não têm a quem oferecer flores ou declarações inflamadas de paixão. Se pensarmos um pouco, talvez não haja razões para se sentirem menos bem que aqueles que celebram, com alguma ostentação e espalhafato, este dia. É que talvez essa ideia do amor não passe de uma ilusão, útil em termos comerciais e pouco mais.
Vejamos porquê: em primeiro lugar o facto do amor que possamos sentir por alguém ser correspondido ou não depende de fatores que, em grande parte, não controlamos: o acaso e a sorte, por exemplo. Por outro lado, só na imaginação a vida é como o amor romântico nos quer fazer crer. Quando alguém nutre um sentimento profundo por outra pessoa, preservá-lo depende do que ambos forem capazes de fazer no dia a dia. Na realidade, as pessoas não são felizes para sempre: tentam ser felizes todos os dias. O amor não é, pois, uma caminhada triunfal, mas uma conquista diária. Por isso, não precisa de datas convencionadas no calendário para ser festejado.
Acresce que a ideia de que quem não ama ou não é amado (no sentido romântico do termo) não pode ser feliz é falsa. As pessoas podem dar significado às suas vidas de muitas formas. Viver uma relação amorosa com alguém é uma delas (e convém que não seja a única!), mas há outras possibilidades …
A crença nessa ideia do amor – associada à comemoração do Dia dos Namorados – é atrativa para a maioria das pessoas, mas é, provavelmente, uma ideia ilusória - à semelhança de muitas outras em que acreditamos.
Créditos : 

A invenção do amor

Belo como o amor pode ser. E triste, também.
Dedicado a… (Complete a seu gosto.)


Será verdade que o amor é cego?

«As pessoas ponderadas afirmam que o amor romântico [que se distingue do amor pelos filhos, pelos pais, pelos amigos...] não é um bom meio para conhecer alguém – pela razão apontada por Stendhal, de que envolvemos o objecto do amor em camadas de cristal e observamos uma visão, ao invés da pessoa, durante todo o tempo que dura o arrebatamento. Nesta perspectiva, trata-se de um estado delirante e o facto de ser [muitas vezes] breve é, portanto, positivo.


Outras pessoas pensam que o amor romântico é a única coisa que nos permite atravessar as camadas que isolam convencionalmente os indivíduos uns dos outros, desnudando a alma a outrem e possibilitando a verdadeira comunicação – aquela que fala a linguagem da intimidade, não através de palavras, mas de prazeres e desejos.

Esta está longe de ser a única diferença nas opiniões acerca do amor romântico. Discute-se igualmente se a propensão para o romantismo é uma característica humana fundamental, ou se se trata, ao invés, de uma construção social e histórica, presente nalguns períodos e sociedades mas ausentes noutros.»

A. C. Grayling, O significado das coisas, Lisboa, 2002, Edições Gradiva, pp. 99-101.

Eis outra (e filosoficamente mais relevante) questão a propósito do “amor romântico” (mais conhecido por amor): será que este contribui para diminuir, ou mesmo anular, o livre-arbítrio? Fica para outro post, também acompanhado por uma canção de Frank Sinatra.





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