domingo, 27 de maio de 2012

A importância preponderante dos problemas filosóficos Frente a qualquer outro elemento da filosofia como um todo.

A importância preponderante dos problemas filosóficos               Frente a qualquer outro elemento da filosofia como um todo.                                                                                                                                 Fábio Valverde                                                                                           Universidade Estadual Paulista                                                                                                                                                     Redefor                                                                                                                        filosofo@globo.com

                            
Resumo: A presente pesquisa tem como objetivo central a reflexão e investigação sobre uma abordagem que leve em conta uma metodologia, que não incorra em cair num ensino enciclopédico, onde conteúdos são apresentados de forma temática, numa tentativa de torná-los mais próximos da realidade vivida pelos jovens, vislumbrando a busca de caracterizar grandes problemas da Filosofia na medida em que permite tanto o acesso aos temas filosóficos mais relevantes quanto à história da filosofia, possibilitando filosofar. O desafio que anunciamos com esse trabalho é a atividade questionadora a partir de grandes problemas da filosofia em Geral, como por exemplo, o belo é melhor que o feio? O homem é realmente livre? O “perguntar a partir” tem esse significado, entendendo que não se trata de negar o conhecimento existente, muitas vezes em forma de senso comum, onde o estudante encara suas preocupações existenciais, culturais etc.; como elementos (problemas) que tem valor e necessitam de reflexão e escolhas. Portanto, uma metodologia que leva em consideração grandes problemáticas da filosofia muitas vezes de maneira muita tênue e intensa fazendo parte do caminhar do estudante, ele o vê como sendo um protagonista que ocupa um papel no mundo da filosofia contemporânea, ele o vivencia e sente a necessidade de resolvê-lo.


Palavras Chaves: metodologia, problematização, paradigma, dialogicidade, mídias, espanto, sensibilizar.

                                                                            1 INTRODUÇÃO
   Buscar uma metodologia que permita o educando apropriar-se de conceitos filosóficos, assim como uma salutar condição para que o estereótipo da disciplina, que muitas vezes distanciam jovens estudantes da proposta lançada, seja na graduação ou no ensino médio, vem sendo um grande desafio para filósofos e professores de filosofia; principalmente após seu retorno à grade curricular do ensino médio. Portanto, investigar, pesquisar e pensar tal proposta e garantir condições para que o ensino e o próprio filosofar ultrapassem a visão enciclopédica e meramente de mais uma disciplina no currículo.  Tal concretização pode ser construída como ponto de partida, a compreensão da importância dos problemas (ou questão da filosofia). Antes ainda, fazem-se necessários dois questionamentos, ou melhor, deixar-nos mover pela perplexidade da realidade como diria o filósofo Gerd Bornheim:
  “Não falo de um silêncio estático e torturante, mas de um silêncio inquieto que sobrevive de indagações escondidas. Parece que o homem de hoje, perdeu a capacidade de ficar perplexo, de não se conformar com as coisas que acontecem em sua volta. Parece que perdeu a capacidade de parar e ficar consigo mesmo, sem pressa de chegar. Por isso que uma aula de Filosofia não faz efeito em mim no mesmo dia em que ela foi dada, demora certo tempo, o tempo que essa aula demora em mim. Sinto seus desdobramentos, suas nuances. Sou formado e ao mesmo tempo inacabado. Como diria Husserl, meu limite é o infinito, minha finalidade é a infinidade. Não vou sozinho, tenho companheiros que junto comigo, desbravam a aventura de ir até o limiar da razão e descobrirem os limites da razão e o que pode ir além dela.” (BORNHEIM, 1989, p.96).
   Esta dúvida leva-nos a pensar, como me referi acima, em duas questões que permitiram o desenvolvimento do presente trabalho, a saber, o que significa o conceito (palavra) problema que usamos corriqueiramente em nossas conversas, trabalho etc.? Uma segunda mais importante: O que caracteriza um problema filosófico?  
   Conforme algumas definições que temos com auxilio dos dicionários entendem-se, problema, como uma dificuldade na obtenção de um determinado objetivo. Em outros contextos pode ter um significado diferente. Em matemática, um problema é uma questão proposta em busca de uma solução. Um problema matemático pode ter solução ou não, algumas vezes possui diversas soluções. Mas que exemplos, ou sugestões de situações em aula, podemos usar para a construção do pensamento crítico a partir de problemas filosóficos?
   Lançar questões que já fazem parte do “mundo” do estudante e que, de fato, em algum momento, independentemente da série e ou disciplina, mobilize habilidades para uma reflexão apurada e consistente, pode facilitar e qualificar o trabalho do professor, por exemplo: Deus existe? O mal que há no mundo é compatível com a existência de Deus? Provocações que despertam e aguçam a imaginação dos alunos permitindo assim que façamos parte do “mundo” deles, de suas reais inquietações e interesses.

                                                                                                Capítulo 1

Mundo da Imagem: Em busca de uma metodologia significativa para jovens estudantes de filosofia.


   Vivemos em um mundo da imagem, aliás, disputamos em sala de aula a atenção dentro de uma configuração um pouco injusta, celulares super modernos, videogames que estimulam e interagem sem contar esta máquina que ora escrevo e que permite uma comunicação vasta e veloz intensamente mais chamativa e visualmente mais impactante que as “velhas” lousas que usamos. Assim como “concorrer” com tão fortes apelos, muitas vezes deformadores, constituindo verdadeiras barreiras para que de fato possamos realizar aproximações e intervenções que possam criar condições para o pensar metódico e rigoroso que o filosofar exige. Edgar Morin diz que a educação “deve contribuir para a auto-formação da pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a viver)” (MORIN, 2001, p.65). À medida que essa educação dá condições para que os envolvidos aprendam a ser humanos, ele é educativo e passa a ser a espinha dorsal que permite a dialogicidade, como método para ouvir cuidadosamente os outros (pois ouvir é pen sar), devemos pesar nossas palavras (pois falar é pensar), que devem ser conduzidas independentemente de outras investigações intelectuais, entretanto, muitas dessas buscas podem, no final, beneficiar-se da reflexão e do diálogo, que são distintamente filosóficos.
   Quando falamos em ouvir, na escuta do outro e claro na metodologia que devemos nos empenhar para que ocorram as problematizações e leituras, que devem ser consideradas premissa básica para que tal encontro ocorra e tenha uma representação significativa para os estudantes, à sala de aula não é o seu único ambiente. Todos os espaços e os momentos podem ser educativos. Humberto Maturana afirma que:
(...) o educar se constitui no processo em que a criança ou o adulto convive com o outro e, ao conviver com o outro, se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro no espaço da convivência. O educar ocorre, portanto, todo o tempo e de maneira recíproca (MATURANA, 1999, p.29).
    
   Quando afirmo que a questão da apropriação da Filosofia não pode reduzir-se à mera análise didático-pedagógica, entendo que não se trata simplesmente de averiguar que procedimentos são empregados para a transmissão de um sistema filosófico, situado no espaço e no tempo, a sala de aula é, podemos dizer, um espaço privilegiado da educação formal, e precisa cada vez mais possibilitar experiências de aprendizagem.
Trazendo uma ideia de Hugo Assmann (1998), a escola (sala de aula) só terá razão de existir se proporcionar tais experiências de aprendizagem que, segundo ele, são processos vitais para a pessoa. E caberá à escola dar condições para que o indivíduo desenvolva habilidades de acessar informações e de saber usá-las, e de construir teias de relações interativas com o ambiente (pessoas e coisas). Isso garantirá que ela sobreviva.
                                                                                     
                                                                                                  Capítulo 2

    Velho paradigma: enciclopédia filosófica ambulante
   A concepção problematizadora da educação, ao colocar o homem-mundo como problema, exige uma posição permanentemente reflexiva do educando e claro do educador, para tal, é necessário uma visão que supere o professor-transmissor, que transgrida a ideia de enciclopédia filosófica ambulante, pois a sensibilidade e o olhar atento do professor para questões atuais e sensíveis aos jovens possibilita a criação, de fato, de um ambiente propício para o exercício do filosofar.
        Hannah Arendt (1978, p. 82), em sua obra The life of the Mind firma: "é antes pelo riso do que por hostilidade que a multidão reage naturalmente às preocupações do filósofo e à inutilidade aparente de seus empreendimentos". Parece que não é prerrogativa da atualidade ver a atividade filosófica com certa ironia e desprezo, não lhe reconhecendo utilidade alguma. Este desprezo pela Filosofia aliado a um tipo ingênuo de aplicação da filosofia por parte de muitos se deve à incompreensão amplamente difundida do sentido do filosofar, incompreensão à qual muitas vezes nem os professores de filosofia estão atentos.
   A Filosofia se acha necessariamente fora de seu tempo, por pertencer àquelas poucas coisas cujo destino consiste em nunca poder nem dever encontrar ressonância imediata na atualidade. Onde tal parece ocorrer, onde uma filosofia se transforma em moda, é porque ou não há verdadeira filosofia ou uma verdadeira filosofia foi desvirtuada e abusada segundo propósitos alheios, para satisfazer às necessidades do tempo (HEIDEGGER, 1966: p.45).
   Este filósofo aponta duas razões para essa "inatualidade" da filosofia: "Ou porque a Filosofia se projeta muito além da atualidade. Ou, então, faz remontar a atualidade a seu passado-presente originário". É possível que Heidegger, e talvez aqui tenha uma interpretação um pouco diferente,quando cita, (a expressão fora de seu tempo) deva ocupar importante reflexão, vejo que há um nítido afastamento do sentido e significado dos grandes problemas investigado pela filosofia e ai é que devemos ter sensibilidade e um olhar especial para que tal afastamento não relegue a disciplina ao ostracismo. Deve-se levar em consideração que não somos modelos absolutos de questões universais e que, portanto, alguns problemas investigados e tratados pela filosofia não sejam de interesse do estudante, seja por questões ideológicas e ou cultural.
  Talvez um caminho mais fértil seja despertar o interesse pela Filosofia partindo de indagações e de problemas suscitados pela experiência cotidiana, ou seja, indicando que as questões filosóficas não são estranhas nem distantes de nossa vida de todo dia. A maioria das pessoas é tão absorvida pelo cotidiano, pelas necessidades imediatas, que a admiração pela vida acaba sendo completamente reprimida. A maioria vivencia o mundo como uma coisa absolutamente normal, e possivelmente este pode ser o principal paradigma a enfrentar. Um filósofo nunca é capaz de se habituar completamente com este mundo, clarificar tal ideia com os estudantes e tira-los de sua zona de conforto e intima-los para serem reais protagonistas do projeto de suas vidas.
          
                                                                                                    Capítulo 3

Aula de Filosofia: O que fazer para tornar uma aula tão atrativa na Era do entretenimento?
   Uma metodologia diferente de estudo da filosofia começa com os problemas, e não com as opiniões pré-concebidas. O ponto de partida é um problema ou família de problemas. Compreender com muito rigor o problema. Isto implica distinguir formulações erradas do problema, e saber explicar porque razão é um problema genuíno e não uma confusão qualquer. É preciso compreender a força intuitiva do problema, a filosofia faz-se pensando e discutindo problemas filosóficos, analisando teses e argumentos. Convém, pois, saber o que são problemas filosóficos e o que não são problemas filosóficos. 
   Promover a reflexão com os colegas professores sobre o que devemos fazer para “prender” a atenção dos alunos, isto é, qual a nossa parcela de contribuição, o que podemos fazer para que as aulas fiquem mais atrativas, que me leva a perguntar pelo conteúdo: ele é realmente relevante? Se o aluno não aprender nada a respeito do conteúdo que você trabalha com ele, o que ele não conseguirá entender ou fazer direito na escola? Existem atualmente elementos que contribuem para que cada vez mais alunos com o perfil "desinteressado" estejam presentes: a cultura da obrigatoriedade de um diploma, a indústria do entretenimento que consegue ser mais atrativa e eficaz em relação à atração da atenção das massas, portanto, o sujeito vai para faculdade com a intenção de se divertir (e nem sempre é possível conciliar diversão e educação), a geração videotape/internet que é mais visual e menos ouvinte, entre outros pontos que estão afetando e prejudicando nossa prática docente.
   Refletindo sobre que metodologia seria mais eficaz para o professor de filosofia, nos deparamos com novos problemas, na verdade expressos em perguntas a seguir, na qual pretendemos durante a pesquisa refleti-las e aprofundando mais algumas ideias a respeito da didática do ensino de filosofia.
   O que fazer para tornar uma aula tão atrativa na Era do entretenimento? O que fazer (se é possível fazer algo) para que nossas aulas sejam tão atrativas e desejadas, quanto a um show ou balada que os alunos frequentam? Mas será que isso é possível, uma vez que educação e entretenimento têm naturezas distintas? Será que devo me conformar em dar aula e ensinar apenas 20% da turma, que são os que demonstram interesse e respeito pela minha profissão? Os outros 80% não tem como eu promover alguma mudança?
   Acreditamos que o paradigma do transmitir informação e do outro lado o ouvir apenas, passivamente e com pouca chace de participar, independentemente da disciplina leva em curto prazo o empobrecimento de qualquer prática educativa, Adorno nos oferece uma concepção de educação que muito contribui para que nossas aulas sejam uma experiência de fato reflexiva.
Evidentemente não a assim chamada modelagem de pessoas, porque não
temos o direito de modelar pessoas a partir do seu exterior; mas também não
a mera transmissão de conhecimentos (...), mas a  produção de uma
consciência verdadeira (ADORNO, 2006, p. 141)
   Caberia, então, ao professor provocá-los para que passe a ser possível, cada vez mais, que os alunos desenvolvam a capacidade de formular questões acerca do seu ambiente, tirando-os do senso comum:
A crítica pode ser avaliada pela capacidade dos alunos em formular questões e objeções de maneira organizada, estruturada (rigorosa). A prática, sempre interessante, de intrigar os alunos – provocando-os para a dúvida, a produção de inferências e a articulação de experiência e teoria – é útil, principalmente naquelas situações em que os alunos  não têm condições de aplicar imediatamente uma regra pelo exercício de uma retórica já desenvolvida (FAVARETTO, 1993, p. 81-82)

   Gallo (2007), por sua vez, propõe um percurso similar, cujos momentos pelos quais as aulas passarão são: sensibilização, problematização, investigação e conceituação. O professor de filosofia, com todos os seus estigmas e visões externas muitas vezes carregadas de pré-conceitos se depara com a dificuldade de tornar o tema não só interessante como, também, curioso aos seus alunos.         Não são raros, muitos jovens estudantes, mesmo sem conhecer ou ter lido algo sobre filosofia associar o professor a um louco, estranho, ateu. Na verdade, uma árdua tarefa dupla, descontruir a imagem muitas vezes depreciativa do professor de filosofia, como também sensibiliza-los para grandes problemas da humanidade que à luz da filosofia, é possível aprofundar questões que foram consideradas imutáveis e/ou sem resolução. Nesta última tarefa, para Galo (2007, p. 27-29), sensibilizar o aluno para o tema proposto é mostrar-lhe a relação da temática com as vivências dele.
                                                                                                Capítulo 4
   A Problematização: Filosofar para mudar.
   Através do diálogo com seus alunos o professor transforma a temática trabalhada em um problema filosófico a ser resolvido, partindo das interrogações do cotidiano do aluno, de suas vivências. Desta forma, o aluno passa a reconhecer e a valorizar discussões que fazem sentido ao seu mundo, partir de seus conflitos e desafios é valorizar seu espaço. O diálogo propiciado pelo professor constitui-se uma ferramenta importante para o desenvolvimento da autonomia intelectual dos jovens estudantes, condição estruturante para que ultrapassem a consciência ingênua, de forma ética e transformadora. Neste sentido, Paulo Freire (1996, p.32) nos diz: “a promoção da ingenuidade à criticidade não pode ou não deve ser feita a distância de uma rigorosa formação ética ao lado sempre da estética. Decência e boniteza de mãos dadas”.
   Em uma aula de filosofia abordei o tema mudança, inserindo aos alunos o conhecimento dos pré-socráticos, em especial Heráclito de Éfeso, e em um dado momento da aula, sinalizei a eles que estamos sempre em mudança, e que iclusive gostaria que ao término da aula todos fossemos embora, todos, assim eu almejava, desejava que houvesse algumas mudanças. Ao final, acredito que este deve ser o intuito das aulas de filosofia, transformar e não neutralizar ou anestesiar. Aspis (2004, p.309) diz que, “o justo seria educar, hoje, para que o aluno seja outro e não um mesmo, um mesmo que qualquer modelo”.
   Não acreditamos que a disciplina de filosofia tenha necessariamente o dever de “salvar o mundo”, sem ela tampouco a sociedade muda, a filosofia contribui para a compreensão humana, e não existe nenhum instrumento mais transformador do que a compreensão para quem a alcança. Em Platão, (Platão, Fédon, 1995) tem-se que a Filosofia busca persuadir as almas a se despren- derem dos sentidos, mostrando a ela o quanto é ilusório o conhecimento através dos olhos do corpo e recomenda que se volte para si e confie nelas mesmas, talvez, a mudança que a filosofia busca tenha um desafio maior ainda, a saber, o desconectar-se deste mundo que não quer a mudança, e sim a perpetuação do poder nas mãos de poucos o controle das massas.
       Muitas vezes nos deparamos com questionamentos dos alunos, onde se percebe o quanto estão inseridos numa cultura imediatista, com perguntas que fazem referência à praticidade, utilidade e resultados imediatos que aquele que se dedica a filosofia teria. Este desprezo pela Filosofia aliado a um tipo ingênuo de aplicação da filosofia por parte de muitos se deve à incompreensão amplamente difundida do sentido do filosofar, incompreensão à qual muitas vezes nem os professores de filosofia estão atentos, talvez, seja uma das razões de presenciarmos muitas vezes por parte da própria escola um olhar estranho e de resistência ao retorno da filosofia como componente curricular obrigatório.
"A Filosofia se acha necessariamente fora de seu tempo, por pertencer àquelas poucas coisas cujo destino consiste em nunca poder nem dever encontrar ressonância imediata na atualidade. Onde tal parece ocorrer, onde uma filosofia se transforma em moda, é porque ou não há verdadeira filosofia ou uma verdadeira filosofia foi desvirtuada e abusada segundo propósitos alheios, para satisfazer às necessidades do tempo" (Heidegger, 1966: p.45).
   A Filosofia, afirma Heidegger, não é "um saber que, à maneira de conhecimentos técnicos e mecânicos, se possa aprender diretamente ou, como uma doutrina econômica e formação profissional, se possa aplicar imediatamente e avaliada de acordo com sua utilidade" (l966: p.45). 
   A impressão que se tem, muitas vezes, por parte dos estudantes e até mesmo de educadores, é que a introdução da disciplina de filosofia, é um luxo, perfumaria que poderia ser aproveitada, por exemplo, com a ampliação de outras disciplinas com teor prático de maior relevância.
   Acreditamos que a filosofia não dispõe de metodologias empíricas nem formais que permitam ver desde o início como se poderão obter resultados, ainda que parciais e negativos, é grande a tentação de conceber a filosofia como entretenimento cultural ou cultura geral. A filosofia deixa então de ser entendida como uma atividade que visa resolver problemas, e passa a ser entendida como uma maneira de ver o mundo, sendo cada uma dessas maneiras de ver o mundo como que outros tantos óculos que gostamos de experimentar para ver as mesmas coisas com cores diferentes. Foi exatamente contra essa concepção utilitarista da filosofia que Sócrates e Platão reagiram. Eles não negam a utilidade lógica da filosofia, mas consideram que a filosofia é muito mais que um método de pensamento. Ela não é estudada com finalidade profissional, como quando se quer aprender um ofício, mas como uma atividade eminentemente humna, própria do ser que pensa e indaga-se a todo tempo. Concluímos, portanto, este capítulo indicando que para aqueles que se dedicam à ou venham a se dedicar a filosofia que a mesma deve ser desvinculada de uma visão imediatista, neste sentido vejamos o que diz Marilena Chauí (2000) sobre a indagação da utilidade, inutilidade e o quanto está a serviço das mudanças, sejam elas econômicas, políticas, ou sociais.


“se a submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes." 
(CHAUÍ, 2000, p. 18).

   Chauí nos dá indicações importantes se queremos de fato lecionar filosofia tendo em vista a superação enciclopédica e muitas vezes enfadonha que por ventura possa ocorrer sem alguns devidos cuidados em nossa prática, algumas delas já comentadas aqui. Podemos ainda, nos perguntar: Diante de uma sociedade midiática, com tantas transformações em várias áreas, em especial da informática e do cinema, como aproveitar tais recursos para que seja realmente um aliado dos professores de filosofia, que possa alavancar discussões e ser como lentes novas para novos olhares para o mundo. Como fazer uso apropriado de filmes, por exemplo, o filme (Mar adentro¹. Espanha, 2004) que problematizam questões tão importantes como a bioética. No próximo capítulo buscará enfatizar o cinema e a internet como mídias importantes para o processo do filosofar e como as mesmas podem ser utilizadas no processo de ensino e aprendizagem.


                                                                                                  Capítulo 5
   Mídias: Cinema e internet a serviço da filosofia.
   A internet e o cinema podem constituir um eficaz aliado da filosofia, se estudantes, professores e gestores da educação se conscientizarem da sua importância, visando aperfeiçoar a prática docente. Hoje, é possível ainda verificar a grande resistência de muitos educadores a estas ferramentas, pois acreditam que este modelo informativo não é realmente apropriado à filosofia nem a qualquer outra área do conhecimento, como a biologia ou a história, porém muitos alunos usam a internet apenas para acessar redes sociais como Orkut, MSN e para cópias de trabalhos, sem um eficiente aproveitamento que a tecnologia oferece, então, conduzir e orientar sua utilização permite que, por exemplo, a filosofia passe a ampliar seus horizontes. A internet para a educação pode ser considerada a mais completa e indispensável ferramenta que possibilita o descortinar de vastos conhecimentos acumulados da humanidade, nas palavras de Ferreira (1994):
“A internet- a maior rede de computadores do mundo- é frequentemente descrita como a rede das redes, pois abrange todas as espécies de redes possíveis, tornando-se a verdadeira rede global, contando com mais de 13.170 redes regionais, nacionais e internacionais”. (FERREIRA, 1994, p.261)
   O uso pedagógico da internet disponibiliza aos estudantes e educadores grandes perspectivas na construção e democratização do conhecimento, permitindo novas formas de comunicação. No entanto, esbarramos com vastos olhares, muitas vezes preconceituosos sobre a viabilidade de seu uso, em especial, da disciplina de filosofia, pelo simples motivo do tabu jogado pelo próprio filosofar de que a disciplina de Filosofia cairia na rede de banalização da informação. Para a superação de tais barreiras, talvez tenhamos que analisar o contexto que estes jovens estão inseridos, é impressionante a quantidade de informações que os jovens recebem e como eles a utilizam na sua vida. É sempre o point do momento, a música que está tocando, a banda que está na mídia ou mesmo à tribo a qual eu me identifico (seja ela surfskaemopunk, metal ou colorido). São tantas informações para selecionar que se torna difícil decidir quais podem ser consideradas úteis para a vida.
   Nesse contexto, a sala de aula, um local considerado fundamental para a formação social do jovem, se tornou na verdade uma praça de glórias onde a identidade se torna supérflua perante os feitos virtuais. A quantidade de seguidores, amigos ou mesmo leitores se tornou a referência de popularidade; onde antes se poderia ser popular na escola, agora através de click o mundo inteiro pode conhecê-lo e saber onde mora ou mesmo o que pensa. Portanto, desconsiderar a gigantesca possibilidade da comunicação, divulgação e a quantidade de conhecimentos e informações que são construídas a todo o momento, são desperdiçar também novos espaço de reflexão e problematização entre culturas e saberes. Estamos na sociedade da informação livre, então porque não usá-la a nosso favor? Sites de relacionamentos, blog ou sites de vídeos como o Youtube podem ser ferramentas poderosas nas mãos de um bom professor que consiga identificar com sabedoria o melhor uso e situação para utilização desses recursos. Atividades dirigidas em sala de aula utilizando esses recursos podem vencer a barreira dos muros do colégio como um local de conhecimento para uma rede de acesso ilimitado.
   O professor ao criar um blog com o nome da disciplina ou mesmo o nome da turma podem criar atividades, jogos ou mesmo propor desafios para os alunos que deverão socializá-las no mesmo blog como fotos, vídeos e textos que demonstrarão o interesse e a participação da disciplina além de dar suporte para que o professor acompanhe todas as atividades dos grupos (ou aluno). O que pode refletir em boas experiências, pois devido ao livre acesso pessoas que não fazem parte da turma podem acompanhar as atividades e divulgá-las o que podem garantir novos adeptos ou mesmo novos grupos de trabalho. Vejamos como Borba, vai um pouco mais além, quando coloca “seres-humanos-com-mídias” dizendo que:
“os seres humanos são constituídos por técnicas que estendem e modificam o seu raciocínio e, ao mesmo tempo, esses mesmos seres humanos estão constantemente transformando essas técnicas”. (Borba, 2001.p.46)

   O uso da Informática nas aulas de filosofia como se pode notar, deve fazer parte do projeto político pedagógico da escola, projeto esse que define todas as pretensões da escola em sua proposta educacional, que claro deve sempre pautar-se por uma pedagogia libertadora e transformadora de espaço e tempos.
   Acreditamos que os filmes são boas ferramentas para auxiliar na aprendizagem, porque a educação não é só a transmissão de conteúdos disciplinares. Estamos lidando com pessoas, grupos de pessoas, instituições, normas, etc. Quem não compreende esse teor na sua prática educativa precisa parar um pouco e pensar sobre isso. A riqueza de um filme não está apenas no seu conteúdo explícito, quer dizer, na história que ele conta e que se presta à discussão deste ou daquele assunto. A riqueza de um filme está na sua riqueza cinematográfica. 
   Promover a reflexão sobre o que devemos fazer para prender a atenção dos alunos, isto é, qual a nossa parcela de contribuição, o que podemos fazer para que as aulas fiquem mais atrativas, passa por um olhar que deve estar aberto a mudanças e a humildade de reconhecer contextos e culturas diferentes. Quero apenas refletir, aqui, sobre o que podemos fazer para que os alunos se interessem mais pelos conteúdos ministrados de filosofia, obviamente, não quero dizer que seja da nossa responsabilidade exclusiva, tornar as aulas atrativas, pois isso depende também da vontade dos alunos de se dedicarem aos estudos, o tipo de conteúdo a ser ministrado (reconheço que existem assuntos, independentemente da área de conhecimento, que são mais atrativos, portanto, mais fácil de prender atenção, do que outros conteúdos) e condições estruturais e materiais de onde se leciona. Possivelmente, teremos sucesso se muitos educadores abandonarem suas posturas cristalizadas do transmitir, decorar e reproduzir na prova. A tarefa não é fácil, existem atualmente elementos que contribuem para que cada vez mais alunos com o perfil "desinteressado" estejam presentes: a cultura da obrigatoriedade de um diploma, a indústria do entretenimento que consegue ser mais atrativa e eficaz em relação à atração da atenção das massas, portanto, o sujeito vai para faculdade com a intenção de se divertir (e nem sempre é possível conciliar diversão e educação), a geração videotape/internet que é mais visual e menos ouvinte, entre outros pontos que estão afetando/prejudicando/modelando nossa prática docente.
   O uso das mídias deve ser utilizado de maneira inteligente, o problema é quando as tecnologias no ensino se tornam um fim em si mesmo, em lugar de um meio para atingir um fim. Como por exemplo, a ideia de "eu uso Power Point, logo então sou um ótimo professor; eu não uso Power Point, logo então sou um professor ruim", e isso acaba levando ao determinismo tecnológico, quer dizer, que só as novas tecnologias determinam o aprendizado dos alunos, eis um problema para a filosofia da educação!
   O Cinema estabelece uma nítida ligação com o afetivo, com o fictício e o surreal, abre as portas para uma infinidade de alternativas e utopias, imagens e sons que falam diretamente a alma, seduzem e sensibiliza principalmente aquele que está em processo de formação. Daí o encantamento, e a perplexidade daquele que observe e interpreta, O sentimento de perplexidade dá origem à reflexão filosófica, como Heidegger (1979, p. 21) “O espanto é, enquanto páthos, a arkhé da filosofia”, suspeitamos, então, que na trama cinematográfica podemos experienciá-lo sem o ônus da facticidade. O cinema cria um ‘mundo possível’, uma realidade ficcional que traz consigo a possibilidade do espectador vivenciar das mais diferenciadas situações. Ele pode apresentar questões até então não experienciadas e/ou problematizadas pelo sujeito.  Sendo assim, acreditamos que o cinema pode suscitar no expectador a reflexão filosófica na medida em que a realidade ficcional é tomada como motivadora da atividade reflexiva agregando, assim, ao entretenimento, valor estético e cognitivo.
   Concluímos o presente trabalho, compreendendo que esta é uma discussão apenas inicial, e apresentamos novos rumos, mas também novos problemas para o ensino da filosofia no ensino médio têm a obrigação de refletir sobre sua ação de modo a trazer à tona seus pressupostos e objetivos, a fim de poder optar conscientemente pelos meios mais adequados em cada espaço e tempo, para que jovens, homens e mulheres, vislumbrem a filosofia como uma porta para novas possibilidades e novos encontros produtivos do pensar, do ensinar e aprender, neste caminho, Luckesi nos fornece uma importante contribuição propondo ao educador uma autocrítica constante e refinada sobre o objetivo do trabalho do educador, revisitando sua prática pedagógica e sempre com um olhar sensível a heterogeneidade dos jovens estudantes, faz-se necessário que estejamos atentos sobre os conteúdos que ministramos e claro para obtermos bons resultados, quais os procedimentos que utilizamos. (LUCKESI, 1990, p.43)
   Em tempo, a pesquisa que até aqui desenvolvemos, pode nos fornecer um itinerário que possa contribuir na prática pedagógica do professor. Vejamos alguns passos: ouvir os alunos e ser ouvido por eles; dialogar a partir do que se ouve na sala de aula e se lê nos textos filosóficos; ler com os alunos e promover ou provocar a leitura investigativa; refletir e fazer com que os alunos coloquem suas vidas em meio à discussão filosófica; finalmente, escrever, como forma de expressão dessa reflexão.

Agradecimentos: Gostaria de prestar meus agradecimentos a Deus por nos conceder à vida e todas as oportunidades de evolução que ela nos proporciona e a todos os professores que contribuíram direta ou diretamente com o programa de pós-graduação da UNESP. Ao nosso professo orientador Marcio Tadeu Girotti, por sua dedicação, atenção e sempre disposto a ajudar e colaborar. Eu, Fábio, agradeço a minha esposa Viviane por toda paciência, compreensão e dedicação nestes últimos meses, onde presenciou minha concentração e dedicação, muitas vezes estendendo-se por toda noite, lendo e escrevendo, sempre ao meu lado, motivando a minha vida por novas conquistas.
Aos meus pais pela minha formação pessoal, em especial a minha mãe que esta no céu, mas tenho certeza que seu espirito esta sempre me guiando, por fim a toda equipe UNESP / Redefor que direta ou indiretamente contribuíram para que o curso tivesse êxito, possibilitando particularmente a mim, a melhora na minha formação.


Abstract: This research project has as its central objective reflection and research on an approach that takes into account a methodology that does not incur a fall encyclopedic learning, where content is presented thematically in an attempt to make them closer to reality experienced by young people, seeing the search to characterize the great problems of philosophy in that it allows access to both the philosophical issues more important in the history of philosophy, enabling philosophizing. The challenge that we announce from this work is the activity questions from the great problems of philosophy in general, such as the beautiful is better than ugly? The man is really free? The "ask after" has that meaning, understanding that this is not to deny the existing knowledge, often in the form of common sense, where the student takes their existential concerns, cultural etc.; As elements (problems) that has value and require reflection and choices. Therefore a methodology that takes into account major issues of philosophy often from very thin and intense part of the student to walk, he sees it as a protagonist who occupies a role in the world of contemporary philosophy, he experienced and felt the need to solve it.

Keywords: Methodology, questioning, paradigm, dialogical, media, surprise, awareness.


Bibliografia:

Luckesi, Cipriano Carlos. ”Filosofia, exercício do filosofar e prática educativa” In: Aberto.
Brasília. Ano 9.nº 45, jan. mar.1990.  
Borba, Marcelo C. e Penteado, Miriam Godoy - Informática e Educação Matemática - coleção tendências em Educação Matemática - Autêntica, Belo Horizonte – 2001
Ferreira, Sueli. M.P.S. “Introdução as Redes Eletrônicas de Comunicação”. “Ciência e Informática”. Brasília, v.23, nº. 2, maio/ago, 1994.p. 258-263.
Heidegger, Martin. Conferências e escritos filosóficos. Tradução e notas de Ernildo
Stein. São Paulo: Abril Cultural, 1979.  
Saviani, Dermeval. “Contribuições da Filosofia para a Educação” In: Aberto. Brasília.
Ano 9 nº 45, jan. mar.1990.   
Chauí, Marilena. Convite À Filosofia Ed. Ática, São Paulo, 2000.
Adorno, Theodor E. & Horkeheimer, Max. Educação e Emancipação. 4 ª ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2006.
Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
Maturana, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte:
UFMG, 1999.
Arendt, Fac. Hannah. A Condição Humana. São Paulo, EDUSP/Forense Universitária, 1978.
Morin, Edgar. A cabeça bem-feita. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
 Bornheim, Gerd A. Dialética: Teoria Práxis. Porto Alegre e Rio de Janeiro: Ed. Globo, 1989. 
Favaretto, C. F. Sobre o Ensino de Filosofia. São Paulo: Revista da Faculdade de
Educação, Volume 19 – Número 1, 1993, p. 81-82.
Platão, Fédon, Tradução de P.e. Eusébio Dias Palmeira. Introd. e Coment. Maria Arminda Alves de Sousa, Porto Editora,Porto,1995
Heidegger. Introdução à Metafísica. Trad. Carneiro Leão. São Paulo, Tempo Brasileiro, 1966.

O Conceito de “Esclarecimento” Segundo Kant

O Conceito de “Esclarecimento” Segundo Kant  Immanuel Kant escreve um artigo tentando responder a pergunta “O que é  esclarecimento ?”...