domingo, 27 de maio de 2012


Terá o coração razões que a razão desconhece?

O beijo do Hotel de Ville, Paris, 1950, Robert Doisneau.

Pascal, matemático e filósofo francês (1620-1661), disse: “O coração tem razões que a razão desconhece”.
As suas palavras referem-se em particular à relação do homem com Deus, sobretudo ao facto de, na sua perspectiva, Deus não poder ser conhecido através da razão mas sim através do coração. Num livro chamado Pensamentos escreveu também: “Eis o que é a fé: Deus sensível ao coração e não à razão”.
Esquecendo o aspecto religioso do problema, mas não o filosófico, e considerando o facto de hoje ser o Dia dos Namorados, fica a questão:
Até que ponto nos devemos orientar pelos sentimentos e pôr de parte a análise racional das coisas (trate-se de Deus, do amor ou da crise económica)?

O amor à verdade

René Magritte, "Os amantes", 1928

Quando uma pessoa ama outra procura-a, gosta de estar com ela e de vê-la. Os amantes representados por René Magritte têm os rostos cobertos e certamente que não se conseguem ver um ao outro. Porque terá Magritte escolhido representá-los assim? O que queria ele dizer-nos?

(Ou será que não nos queria dizer nada? Será possível pintar um quadro como aquele e não querer transmitir nenhuma ideia?)

Etimologicamente, a palavra “filosofia” significa amor ao saber. O que é equivalente a dizer amor à verdade ou até desejo de aprender. Assim, um filósofo é um amante da verdade: tal como uma pessoa ama outra pessoa e sente desejo por ela, um filósofo ama a verdade e deseja possuí-la.

Mas, se um filósofo é um amante (da verdade), poderá ele estar retratado nesta pintura de Magritte?

Talvez a comparação não possa ser feita em todos os pontos, pois no quadro de Magritte o amor parece recíproco. Ora, embora faça sentido dizer que as pessoas amam a verdade, não parece fazer sentido dizer que a verdade ama as pessoas.

Esqueçamos a parte da reciprocidade. O que pode então significar a comparação entre um filósofo e uma pessoa que está diante do objecto do seu amor, mas de cara tapada e com os olhos vendados?

Significará que algumas pessoas, apesar de serem capazes de filosofar, não o fazem (talvez por preguiça) e como que fecham os olhos diante da vida?

Significará que algumas pessoas, apesar de serem capazes de filosofar, não o fazem por temerem aquilo que podiam descobrir (por exemplo que não sabem justificar as suas crenças mais básicas) e optam por viver iludidas?

Significará que um desejo muito forte e obsessivo por uma coisa, por exemplo a verdade, pode afinal afastar-nos dela?

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