terça-feira, 30 de junho de 2015

IDEOLOGIA


 Difícil encontrar na ciência social um conceito tão complexo, tão cheio de significados, quando ao conceito de ideologia. Nele se dá uma acumulação fantástica de contradições, de paradoxos, de arbitrariedades, de ambiguidades, de equívocos e de mal-entendidos, o que torna exatamente difícil encontrar o seu caminho nesse labirinto.

O conceito de ideologia vem de Marx: ele simplesmente o retomou. Ele foi literalmente inventado (no pleno sentido da palavra: inventar, tirar de cabeça, do nada) por um filósofo francês conhecido, Destutt deTracy, discípulo de terceira categoria dos enciclopedistas, que publicou em 1801 um livro chamado Elements d'Ideologie. É um vasto tratado que, hoje em dia, ninguém tem paciência de ler. Para se ter uma idéia do pouco interesse que representa esse livro, basta dizer que, para ele, ideologia é um sub-capítuio da zoologia. A ideologia, segundo Destutt de Tracy, é o estudo científico das idéias e as idéias são o resultado da interaçao entre o organismo vivo e a natureza, o meio ambiente. É portanto, um sub-capítulo da zoologia – que estuda o comportamento dos organismos vivos - no que se refere ao estudo do relacionamento dos organismo vivos com o meio ambiente, onde trata da questão dos sentidos, da percepção sensórial, através da qual se chegaria as idéias. É por esse caminho que segue a análise, de um cientificismo materialista vulgar, bastante estrito, que caracteriza essa obra de Destutt de Tracy.

Alguns anos mais tarde, em 1812, Destutt e seu grupo, discípulos de todos do enciclopedismo francês, entraram em conflito com Napoleão que, em um discurso em que atacava Destutt de Tracy e seus amigos, os chamou de ideólogos. No entanto, para Napoleão, essa palavra já tem um sentido diferente; os ideólogos são metafísicos, que fazem abstraçâo da realidade, que vivem em um mundo especulativo.

Deste modo, paradoxalmente, Destutt e seus amigos, que queriam fazer uma análise científica materialista das ideologias, fora, chamados de ideólogos por Napoleão, no sentido de especuladores metafísicos e, como Napoleão tinha mais peso, digamos, ideológico, que eles, foi a sua maneira de utilizar o termo que teve sucesso na época e que entrou para o linguajar corrente.

Quando Marx, na primeira metade do século XIX, encontra o termo em jornais, revistas e debates, ele estásendo utilizado em seu sentido napoleônico, isto é, considerando ideólogos aqueles metafísicos
especuladores, que ignoram a realidade. É nesse sentido que Marx vai utilizá-lo a partir de 1846 em seu livro chamado A Ideologia Alemã.

É esse o caminho tortuoso do termo: começa com um sentido atribuído por Destutt, que depois é modificado por Napoleão e, em seguida, é retomado por Marx que, por sua vez, lhe da um outro sentido. Em A Ideologia Alemã, o conceito de ideologia aparece como equivalente à ilusão, falsa consciência, concepção idealista na qual a realidade é invertida e as idéias aparecem como motor da vida real. Mais tarde Marx amplia o conceito e fala das formas ideológicas através das quais os indivíduos tomam consciência da vida real, ou melhor, a sociedade toma consciência da vida real. Ele as enumera como sendo a religião, a filosofia, a moral, o direito, as doutrinas políticas, etc.

Para Marx, claramente, ideologia é um conceito pejorativo, um conceito crítico que implica ilusão, ou se refere a consciência deformada da realidade que se dá através da ideologia dominante: as idéias das classes dominantes são as ideologias dominantes na sociedade.

Mas o conceito de ideologia continua sua trajetória no marxismo posterior a Marx, sobretudo na obra de Lênin, onde ganha um outro sentido, bastante diferente: a ideologia como qualquer concepção da realidade social ou política, vinculada aos interesses de certas classes sociais.

Para Lênin, existe uma ideologia burguesa e uma ideologia proletária. Aparece, então, a utilização do termo no movimento comunista, que fala de luta ideológica, de trabalho ideológico, de reforço ideológico, etc. Ideologia deixa de ter o sentido crítico, pejorativo, negativo, que tem em Marx, e passa a designar simplesmente qualquer doutrina sobre a realidade social que tenha vinculo com uma posição de classe. Assim a palavra vai mudando de sentido, não só quando passa de uma corrente para outras, mas também no seio de uma mesma corrente de idéias: o marxismo. Há uma mudança considerável de significado entre, por exemplo. Marx e Lênin.

Finalmente, há uma tentativa sociológica de por um pouco de ordem nessa confusão. Essa tentativa é realizada pelo famoso sociólogo KarI Mannheim em seu livro Ideologia e Utopia, onde procura distinguir os conceitos de ideologia e de utopia. Para ele, ideologia é um conjunto das concepções, idéias, representações, teorias, que se orientam para a estabilização, ou legitimação, ou reprodução, da ordem estabelecida. São todas aquelas doutrinas que tem um certo caráter conservador no sentido amplo da palavra, isto é, consciente ou inconsciente, voluntária ou involuntariamente, servem a manutenção da ordem estabelecida, utopias, ao contrário, são aquelas idéias, representações e teorias que aspiram outra realidade, uma realidade ainda inexistente. Tem, portanto, uma dimensão crítica ou de negação da ordem social existente e se orienta para sua ruptura. Deste modo, as utopias tem uma função subversiva, uma função crítica e, em alguns casos, uma função revolucionaria.

Percebe-se imediatamente que ideologia e utopia são duas formas de um mesmo fenômeno, que se manifesta de duas maneiras distintas. Esse fenômeno é a existência de um conjunto estrutural e orgânico de idéias, de representações, teorias e doutrinas, que são expressões de interesse sociais vinculados às posições sociais de grupos ou classes, podendo ser, segundo o caso, ideológico ou utópico. http://www.portalimpacto.com.br/


A LÓGICA DA IDEOLOGIA

Ideologia é um conjunto de idéias e representações articuladas coerentemente sobre as coisas, capaz de provocar ação. Tem origem nas relações históricas de produção material e seu objetivo é justificar a ordem social estabelecida.

Ao desvendar as artimanhas da ideologia, compreendemos o fenômeno de adaptação diárias dos trabalhadores ao processo de produção nas empresas, por exemplo. Frases incorporadas à cultura do povo – “O trabalho é necessário”, “ O trabalhador é preguiçoso”; Todos ganham com trabalho”; Quem não trabalha não come”; “O trabalho engrandece o homem” – afetam a prática e a dimensão simbólica e, portanto, a idéia de trabalho em nossa sociedade. Esse conteúdo ideológico resulta em controle do processo de trabalho: operações de vigilância sobre o trabalhador, sua produtividade, seu ritmo, e até sobre suas necessidades primárias. Quando o trabalho não proporciona uma vida digna ao trabalhador, vale perguntar: qual trabalho engrandece o homem?

O que induz os homens a aceitar essa realidade e submeter-se à sua dinâmica, fazendo-os parecer mais objetos que sujeitos das atividades? O que leva o cidadão brasileiro a não demonstrar sua revolta, quando o equivalente a milhões e milhões de dólares é subtraído dos cofres públicos e utilizado para atender a interesses e caprichos particulares?

Há uma resposta que dá fundamento a essa indagação e indignação: a ideologia – um não saber, fruto da falta de informações completas e verdadeiras, que nos leva a identificar o social com uma realidade pasteurizada, livre da dominação, dos conflitos e das contradições.

Essa á a lógica da ideologia: ambígua e contraditória. Se, por um lado, ela escamoteia a realidade dos fatos, por outro, pode, também, revelar as armadilhas da dominação social. A ideologia não se impõe de modo absoluto, pois em seu movimento ela provoca a nossa capacidade de crítica e conhecimento.

É preciso aprender a linguagem da ideologia e aprender a sua lógica. O fenômeno dos “caras-pintadas” nos proporcionou essa chance, ainda que tenha sido manipulado pelos meios de comunicação de massa e o seu símbolo, apropriado pelos políticos profissionais. Os “caras-pintadas” foram um lampejo de consciência política na história recente do Brasil. Num lance, as passeatas de 1992 relataram um lado escondido da realidade: a faixa presidencial caíra no chão e “o rei estava nu”. Hoje os “caras-pintadas” desapareceram como a fugacidade do próprio movimento que os tornou públicos. Certamente concluíram a educação básica e devem estar cursando a universidade e disputando vagas no mercado de trabalho brasileiro. No Brasil de hoje, que outros motivos poderiam desencadear processos sociais capazes de desmascarar outras faces encobertas da ideologia?

A ideologia reúne idéia e prática em uma lógica dissimuladora. Para enfrentá-la, é preciso desenvolver o espírito crítico

Como nasce a ideologia?

  • uma estória para começar... Samir blahoud
Numa certa tribo primitiva da Austrália, o ritual de passagem da infância para a vida adulta era cercado de crueldades, para provar a força, resistência e coragem dos jovens. Entre outras coisas, o jovem era fechado numa cabana, junto a um enxame de furiosas abelhas. O jovem deveria suportar todas as ferroadas sem soltar um ai. Depois ele deveria enfrentar feras no mato com instrumentos precários de autodefesa...Enfim, somente após um ritual de atrocidades é que ele poderia ser considerado membro adulto da tribo, com todos os privilégios reservados apenas aos guerreiros.

Só os filhos dos chefes religiosos da tribo, que presidiam tais rituais, é que estavam isentos dessas práticas, porque só pelo fato de serem de descendência sagrada, eles já partilhavam da força dos deuses, o que os habilitava para posições privilegiadas. Foram os próprios deuses que, no princípio, assim estabeleceram as coisas!

Nem é preciso dizer, que num passado muito distante, foram os religiosos que criaram e regulamentaram os rituais de passagem.

A ideologia é um conhecimento deformado e falseado da realidade que beneficia um grupo em detrimento de outro. Quem tem mais poder na sociedade, tem mais possibilidade de impor sua ideologia. Porque tem um pensamento mais elaborado e tem à sua disposição melhores meios para difundi-la. Os membros sagrados da tribo, devido sua posição privilegiada tinham maiores condições de impor sua cosmovisão a todo o grupo. Afinal, seu papel é altamente legitimado pela crença generalizada no seu poder sobrenatural. O fenômeno ideológico é um produto necessário do fenômeno da desigualdade social.

A desigualdade é um fenômeno de poder e esse poder precisa legitimar-se.

Precisam, portanto, justificar a necessidade da permanência da realidade como ela é, mantendo um quadro de idéias para convencer os outros disso.

A ideologia é a justificação das posições sociais. Nesse sentido, a ideologia conta com a participação e colaboração da filosofia, da literatura, das ciências, do direito etc. A realidade é transformada em mito e o dominado crê no mito. Conscientizar é desmitificar.

A ideologia usa a ciência:

Há uma “atitude ideológica”, quando um cientista, um jurista ou um meio de comunicação são utilizados para falsificar a realidade. Nesse sentido, nem a ciência nem o direito são neutros. É impossível existir neutralidade em questões sociais.

No século XVII, os “cientistas” da Igreja tinham que acreditar e ensinar que a Terra era o Centro do Universo (teoria geocêntrica), pois assim faziam supor as Sagradas Escrituras, interpretadas pelos Santos Padres e pela Hierarquia da Igreja. Mesmo tendo apontado o telescópio para os céus e comprovado que o Sol era o centro do nosso sistema, Galileu foi obrigado a abjurar, em 1633, para não ser queimado vivo, como acontecera com Giordano Bruno, em 1600. Galileu ficou em prisão domiciliar até o final da vida. Só em 1992 a Igreja reconheceu publicamente que Galileu estava certo.

Principalmente em Estados Totalitários, a ciência é muito usada para fins de justificação do regime. Por isso há controle e censura à produção científica. Hitler, por exemplo, queria provar, cientificamente, a superioridade da raça ariana sobre todas as outras raças. Faziam-se experiências, inclusive com seres humanos. Uma ditadura pode usar “explicações científicas” para provar a necessidade e a oportunidade de se construir uma Usina Nuclear em Angra dos Reis, ou uma Rodovia Transamazônica. Recorrer à ciência, às estatísticas, dá uma maior importância, uma aparência de certeza da verdade, ao fato em discussão.

Até os dominados "defendem" a ideologia dominante:

- Foi Deus quem quis assim. Quando ele quiser, ele manda chuva para nós. Não podemos reclamar, não.

Uma pobre mulher nordestina dizia isso em junho de 2001.

- Minha senhora, não foi Deus, não! O dinheiro que já foi enviado para a SUDENE daria para ter inundado o Sertão. O Sertão poderia ter virado mar... Grande parte da culpa é dos corruptos que ficam com nosso suado dinheirinho... que, juntado, dá um dinheirão!

Ideologia é um termo que possui diferentes significados e duas concepções: a neutra e a crítica. No senso comum o termo ideologia é sinônimo ao termo ideário (em português), contendo o sentido neutro de conjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas. Para autores que utilizam o termo sob uma concepção crítica, ideologia pode ser considerado um instrumento de dominação que age por meio de convencimento (persuasão ou dissuasão, mas não por meio da força física) de forma prescritiva, alienando a consciência humana.

O discurso tem uma dimensão ideológica que relaciona as marcas deixadas no texto com as suas condições de produção, e que se insere na formação ideológica. E essa dimensão ideológica do discurso pode tanto transformar quanto reproduzir as relações de dominação. Para Marx, essa dominação se dá pelas relações de produção que se estabelecem, e as classes que estas relações criam numa sociedade. Por isso, a ideologia cria uma "falsa consciência" sobre a realidade que tem como objetivo suprir, morder, reforçar e perpetuar essa dominação. Já para Gramsci, a ideologia não é enganosa ou negativa em si, mas constitui qualquer ideário de um grupo de indivíduos; em outras palavras, poder-se-ia dizer que Gramsci rejeita a concepção crítica e adere à concepção neutra de ideologia. Para Althusser, que recupera a ótica marxista, a ideologia é materializada nas práticas das instituições, e o discurso, como prática social, seria então “ideologia materializada”. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ideologia

NADA COMO A INSTRUÇÃO

O senhor não me arranja um trocado? Perguntou o esfarrapado garoto com um olhar súplice. Outro daria o dinheiro ou seguiria adiante. Não ele. Não perderia aquela oportunidade de ensinar a um indigente uma lição preciosa:

- Não, jovem – respondeu -, não vou lhe dar dinheiro. Vou lhe transmitir um ensinamento. Olhe para você, olhe para mim. Você é pobre, você anda descalço, você decerto não tem o que comer. Eu estou bem vestido, moro bem, como bem. Você deve estar achando que isso é obra do destino.

Pois não é. Sabe qual é a diferença entre nós, filho? O estudo. As estatísticas estão aí: Pobre estuda cinco anos menos do que o rico.

O menino o olhava assombrado. Ele continuou:

- Pessoas como eu estudaram mais do que as pessoas de sua gente. Em média, cinco anos mais. Ou seja: passamos cinco anos a mais em cima dos livros. Cinco anos sem nos divertir, cinco anos queimando pestanas, cinco anos sofrendo na véspera dos exames. E sabe por quê, filho? Porque queríamos aprender. Aprender coisas como o teorema de Pitágoras. Você sabe o que é o teorema de Pitágoras? Não, seguramente você não sabe o que é o teorema de Pitágoras, Se você soubesse, eu não só lhe daria um trocado, eu lhe daria muito dinheiro, como homenagem a seu conhecimento. Mas você não sabe o que é o teorema de Pitágoras, sabe?

- Não- disse o menino. E virando as costas foi embora.

Com o que ele ficou muito ofendido. O rapaz simplesmente não queria saber nada acerca do teorema de Pitágoras. Aliás- como era mesmo, o tal teorema? Era algo como o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Ou: o quadrado do cateto é igual à soma dos quadrados da hipotenusa. Ou ainda, a hipotenusa dos quadrados é a soma dos catetos quadrados. Enfim, algo que só aqueles que têm cinco anos a mais de estudo conhecem.


SE OS TUBARÕES FOSSEM HOMENS

(por Bertold Brecht)

Se os tubarões fossem homens, perguntou a filha de sua senhoria ao senhor K., seriam eles mais amáveis para com os peixinhos?

Certamente, respondeu o Sr. K. Se os tubarões fossem homens, construiriam no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos, com todo tipo de alimento, tanto animal quanto vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre água fresca e adaptariam todas as medidas sanitárias adequadas. Se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, ser-lhe-ia imediatamente aplicado um curativo para que não morresse antes do tempo.

Para que os peixinhos não ficassem melancólicos haveria grandes festas aquáticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres têm melhor sabor do que os tristes. Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas os peixinhos aprenderiam como nadar alegremente em direção à goela dos tubarões. Precisariam saber geografia, por exemplo, para localizar os grandes tubarões que vagueiam descansadamente pelo mar.

O mais importante seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos. Eles seriam informados de que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se sacrifica contente, e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo quando dissessem que cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos saberiam que este futuro só estaria assegurado se estudassem docilmente. Acima de tudo, os peixinhos deveriam rejeitar toda tendência baixa, materialista, egoísta e marxista, e denunciar imediatamente aos tubarões aqueles que apresentassem tais tendências.

Se os tubarões fossem homens, naturalmente fariam guerras entre si, para conquistar gaiolas e peixinhos estrangeiros. Nessas guerras eles fariam lutar os seus peixinhos, e lhes ensinariam que há uma enorme diferença entre eles e os peixinhos dos outros tubarões. Os peixinhos, proclamariam, são notoriamente mudos, mas silenciam em línguas diferentes, e por isso não se podem entender entre si. Cada peixinho que matasse alguns outros na guerra, os inimigos que silenciam em outra língua, seria condecorado com uma pequena medalha de sargaço e receberia uma comenda de herói.

Se os tubarões fossem homens também haveria arte entre eles, naturalmente. Haveria belos quadros, representando os dentes dos tubarões em cores magníficas, e as suas goelas como jardins onde se brinca deliciosamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos peixinhos a nadarem com entusiasmo rumo às gargantas dos tubarões. E a música seria tão bela que, sob os seus acordes, todos os peixinhos, como orquestra afinada, a sonhar, embalados nos pensamentos mais sublimes, precipitar-se-iam nas goelas dos tubarões.

Também não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira vida dos peixinhos começa no paraíso, ou seja, na barriga dos tubarões.

Se os tubarões fossem homens também acabaria a idéia de que todos os peixinhos são iguais entre si. Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros. Aqueles ligeiramente maiores até poderiam comer os menores. Isso seria agradável para os tubarões, pois eles, mais frequentemente, teriam bocados maiores para comer. E os peixinhos maiores detentores de cargos, cuidariam da ordem interna entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, polícias, construtores de gaiolas, etc.

Em suma, se os tubarões fossem homens haveria uma civilização no mar.

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