sexta-feira, 29 de junho de 2012

A teoria da alma em Platão


                                                                                                                              
Platão (428-348 a.C.) foi discípulo de Sócrates e escreveu trinta diálogos considerados autênticos. Hoje conhecemos a figura de Sócrates graças aos seus diálogos, que faziam dele seu personagem principal. Platão fundou a primeira escola conhecida no mundo ocidental na cidade de Atenas em 387 a.C, chamada Academia, em homenagem ao seu amigo Academus. Seu verdadeiro nome era Aristocles, mas foi apelidado de Platão devido aos seus ombros largos.   Era um homem rico e fazia parte da aristocracia que governava a Grécia.  Seu pai, Aristão, tinha o rei Codros como seu antepassado e sua mãe, Perictione, foi parente de Sólon.    
            O pensamento de Platão  foi muito influenciado pelas filosofias de Heráclito e Parmênides. Ele procurou reconciliar ambas as posições. Foi da controvérsia dessas duas filosofias que surgiu a “teoria das idéias”, núcleo central de sua filosofia. O problema que Platão propõe a resolver é o conflito “irreconciliável” entre a teoria da mudança em Heráclito e Parmênides.  Para Heráclito no universo não há nada acabado, fixo e estável, tudo está em permanente mudança. Sua metafísica identifica o Ser com o Não-Ser. Se o mundo é devir, vir-a-ser,  não existe um Ser fixo, estável,  ele está sempre se transformando, é sempre impermanente.   Já para Parmênides as coisas que existem tem múltiplas características, são pequenas, grandes, coloridas, pesadas, leves, são diferentes, como homem, animal, água, fogo, etc. Se usarmos a intuição e o raciocínio, ou Noûs (pensamento) como ele chamava, perceberemos que há uma propriedade fixa em todas as coisas: elas “são”. Para Parmênides, o ser é uma propriedade de todas as coisas. Tudo que existe tem “Ser”. O Ser  é fixo, eterno, imutável, infinito. Dessa forma, as mudanças e transformações que ocorrem na natureza são uma ilusão de nossa percepção, pois algo que é não pode deixar de ser, e algo que não é não pode vir-a-ser, portanto, não há mudança.
           Para reconciliar ambas as teorias, Platão mostrou-nos que todos nós estamos sempre em contato com duas realidades: uma inteligível e outra sensível. A primeira é permanente, universal, nunca se modifica, é o mundo das idéias. A segunda é o mundo que percebemos por nossos sentidos, mutável e contingente, o mundo sensível.  Platão demonstra que o mundo tem uma forma apriori, uma estrutura inteligível.  “Através dos diálogos, Platão vai caracterizando essas causas inteligíveis dos objetos físicos que ele chama de idéias ou formas. Elas seriam incorpóreas e invisíveis – o que significa dizer justamente que não está na matéria a razão de sua inteligibilidade. Seriam reais, eternas e sempre idênticas a si mesmo, escapando a corrosão do tempo, que torna perecíveis os objetos físicos. Merecem por isso mesmo, o qualificativo de ‘divinas’ (…). Perfeitas e imutáveis, as idéias constituiriam os modelos ou paradigmas dos quais as coisas materiais seriam apenas cópias imperfeitas e transitórias. Seriam, pois, tipos ideais, a transcender o plano mutável dos objetos físicos.” (Pessanha, 1987, XVI-II).  
         A teoria das idéias de Platão está diretamente ligada a sua teoria da alma.   Na parte IV do seu livro “República” Platão concebe o homem como corpo e alma. Enquanto o corpo modifica-se e envelhece, a alma é imutável, eterna e divina. A alma inteligente preso ao corpo um dia foi livre e contemplou o mundo das idéias, mas as esqueceu. É somente através da busca do conhecimento, através de um processo de recordação, de reminiscência o homem pode lembrar-se das idéias que um dia contemplou.   A realidade sem forma, sem cor, impalpável só pode ser contemplada pela inteligência, que é o guia da alma.
Platão divide a alma em três partes. O lado racional está localizado na cabeça, seu objetivo é controlar os dois outros lados, com ele adquirimos a sabedoria e a prudência. O lado irascível está localizado no coração, seu objetivo é fazer prevalecer os sentimentos e a impetuosidade, com ele adquirimos a coragem. Por último, temos o lado concupiscente que está localizado no baixo-ventre, seu objetivo é satisfazer os desejos e apetites sexuais, com ele adquirimos a moderação ou a temperança.  No Mito do Cocheiro, no diálogo “Fedro”, Platão compara a alma a uma carruagem puxada por dois cavalos, um branco (irascível) e um negro (concupiscível). O corpo humano é a carruagem, e o cocheiro (Razão) conduz através das rédeas (pensamentos) os cavalos (sentimentos).  Cabe ao homem através de seus pensamentos saber conduzir seus sentimentos, pois somente assim ele poderá se guiar no caminho do bem e da verdade. 
           Platão afirma que não podemos ser felizes quando somos dominados pela concupiscência e pela cólera, isso porque as paixões sempre nos conduzem por caminhos perigosos e contraditórios e fazem com que os desejos e impulsos violentos de nosso corpo tirem nosso bom senso.  Já dizia Sócrates que todo vicio é ignorância. Não há nada mais deprimente do que uma pessoa que age por impulsos e é dominada pelas paixões. Ter autocontrole é essencial para sermos felizes. A felicidade só pode ser alcançada se formos capazes de dominar nossos sentimentos pela razão. A moderação é uma virtude e ela se realiza quando somos capazes de controlar a nossa concupiscência. O indivíduo moderado é aquele que não cede as suas paixões, impulsos e prazeres. Da mesma forma o indivíduo não se lançara a luta e a agressão indiscriminadamente, uma vez que a razão deve saber discernir o que é bom e mal para nossa vida, sabendo dominar a nossa alma irascível. Dessa forma, seremos felizes se através da razão soubermos controlar nossa vida, pois a virtude natural da razão é o conhecimento.  

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