sexta-feira, 13 de abril de 2012

Humanização e Educação

Estes questionamentos me levam a refletir sobre um poema de Adélia Prado:

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“ Coitado, até essa hora no serviço pesado “.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo”.
Sentimento e estudo... Creio que sem o sentimento o estudo perde o seu sentido, por outro lado, sem o estudo, sem o conhecimento, o sentimento pode acabar empobrecido.
Sentimento e estudo são como as asas dos pássaros, dos anjos, se auxiliam no equilíbrio para o vôo, a uma maior valorização da vida. Ao amor, a Adélia atribui a “essa palavra de luxo”.Será que por isto é tão pouco lembrado nas nossas escolas, nos nossos estudos com os nossos alunos, no nosso trabalho como educadores?
As ações de humanização englobam muitas e diversificadas práticas profissionais que vêm sendo introduzidas no tratamento de pessoas hospitalizadas (a psicologia, a terapia ocupacional, a arte terapia, a contação de histórias, a arte do palhaço, as artes plásticas, o toque terapêutico, a massoterapia, etc.).
Práticas essas que passam pelo sentimento, o amor. Amar é responder pela relação, é estar atento às necessidades do outro, respeitá-las, escutá-las, dar-lhes uma resposta. Amar é prestar atenção em nossa maneira de tratar o outro.
O amor está ligado ao respeito =respicere = olhar. É a capacidade de ver a pessoa tal como ela é, estar consciente de sua unicidade, é desejar vê-la florescer conforme seus desejos e meios.
Amar é abrir-se à realidade do outro como ele é sem procurar transformá-lo conforme as nossas expectativas, encorajando-o em seu caminho ao mesmo tempo em que respeitamos ambos as nossas necessidades: as dele e as nossas.
Nas ações da humanização, procuramos resgatar o respeito à vida humana, a nossa e a do paciente. Estando presente todo um universo social, ético, educacional e psíquico, observados em todo relacionamento humano. As ações da humanização envolvem um vínculo subjetivo, entre quem cuida e quem é cuidado.
Na escola pouco se aprende sobre a afetividade: usar o corpo, ter confiança em si, escutar, ter empatia, auto motivar-se, respeitar as diferenças individuais, a humanizar-se.
Os seres humanos são seres de relações, são seres emocionais e amorosos.
Amo o mar, amo os seres humanos, amo minha filha, te amo, amo caminhar, amo ler, amo escrever...
Que confusões nascem pelo fato de termos um só vocábulo para designar o amor. Mas o amor se encerra numa definição? Palavras são insuficientes para descrever todas as sutilezas desse sentimento que nos liga conosco, com os outros e com o mundo.O amor traz em si a responsabilidade da humanidade, o respeito ao próximo. Esta disposição para a importância do respeito da individualidade do paciente estabelece um grau de adaptação e mudança; em compensação, abre espaço para a criatividade tão fundamental no atendimento humanizado.
Humanizar é acolher esta necessidade de resgate e articulação de aspectos indissociáveis: o sentimento e o conhecimento. Mais do que isso, humanizar é adotar uma prática na qual o enfermeiro, o profissional que cuida da saúde do próximo, encontre a possibilidade de assumir uma posição ética de respeito ao outro, de acolhimento do desconhecido, do imprevisível, do incontrolável, do diferente e singular, reconhecendo os seus limites. A possuir uma pré-disposição para a abertura e o respeito ao próximo como um ser independente e digno. É necessário repensar as práticas das instituições de ensino, que preparam os profissionais da educação no sentido de buscar alternativas de diferentes metodologias que preservem este posicionamento ético no contato pessoal e no desenvolvimento de competências relacionais. Quanto mais articularmos o conhecimento teórico e técnico da ciência aos aspectos afetivos, sociais, culturais e éticos da relação professor / aluno, mais estaremos no caminho para uma relação mais humanizada e eficaz. Devemos ensinar que é possível contribuir na formação dos jovens por meio de atitudes simples, de uma palavra ou de um ato de carinho.
Alguns projetos já concretizam esses desejos, outros começam a tomar forma, refletindo na necessidade de entendermos que a transformação dos ambientes escolares depende de Conhecimento e de Atitude (sentimento), para o desenvolvimento de fato, de ações e resultados.
O Projeto Humanizar considera o conhecimento uma aquisição de forma contínua e sistematizada, com a qualificação técnica/científica, prática e comportamental.
Está sendo desenvolvido de forma experimental com ajuda de todos os educadores, sendo os dois meses iniciais do programa denominado de Programa Introdutório, onde são focados temas comportamentais como: autocuidado, comunicação, ética, atividades direcionadas a humanização do processo de aprender e ensinar.
Uma oportunidade de crescimento para toda a equipe. Definitivamente, a Humanização da equipe escolar envolve essencialmente o trabalho conjunto de diferentes disciplinas, e toda equipe pedagógica. O trabalho interdisciplinar pode favorecer a uma multiplicidade de enfoques e alternativas para a compreensão de aspectos que estão envolvidos no ensino e aprendizagem . Isto tudo pode colaborar para o estabelecimento de uma nova cultura de respeito e valorização da vida humana no atendimento ao aluno.
É necessário mudar a forma como as escolas se posicionam frente ao seu principal objeto de trabalho - a vida, o sofrimento, as transformações do ser- humano, afeto e o aprender. De nada valerão os esforços para o aperfeiçoamento gerencial, financeiro e tecnológico das escolas. Pois a mais extraordinária tecnologia, sem ética, sem delicadeza, sem respeito, não produz bem-estar. Muitas vezes, desertifica o homem. Afinal, "o que é humanização?"
-Respeitar o outro como a si mesmo; -É se colocar no lugar do próximo ao cuidar dele; - Utilizar palavras simples como: bom dia, obrigada, posso ajudar? -Tratar o estudante /aluno de maneira humana.
Repostas que não englobam a complexidade da palavra, mas expressam que nas nossas relações diárias de trabalho há um espaço para os nossos corações se manifestarem. Acreditamos que qualquer ação na área da humanização necessita ter em mente o alcance e a delicadeza do tema. Esse tipo de cuidado pode resguardar sua profundidade, do contrário corremos o risco de banalizar essa prática através de ações bem intencionadas, mas talvez, pouco efetivas.
Educar com o coração, viver a vida com o coração, ser o mais total e integral possível, ter na consciência o papel que exerce no universo e representá-lo, tudo isto significa manifestar a inteligência do coração. Ou melhor, ainda estabelecer a parceria entre o conhecimento e o sentimento.
São os seres humanos que formam a sociedade, mudar a sociedade sem mudar o ser humano é ilusão. O trabalho, a criatividade, a educação e a vida social e familiar não evoluem separadas.
Complementando essas reflexões sobre o processo de humanização recorro mais uma vez a beleza, a poesia através de um texto narrativo de Marina Colasanti: “De Cabeça Pensada”.

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