terça-feira, 30 de junho de 2015

Mosaico Reflexivo.

Amigo

Um amigo é alguém com quem se está bem, mas um amigo é muito mais que isso, é alguém que pensa em ti quando não estás aqui, alguém que pede a Deus por ti, quando tens que fazer algo dificil. Nunca se está realmente só quando se tem um amigo.

Um amigo ouve o que tu dizes, e tenta compreender o que tu não sabes dizer. Mas um amigo não está sempre de acordo contigo, um amigo contradiz-te e obriga-te a pensar honestamente. Um amigo gosta de ti, mesmo que faças besteiras. Um amigo ensina-te a gostar de coisas novas, não teria imaginado estás coisas se estivesses sozinho.

Amigo é uma palavra bonita, é quase a melhor palavra!! Um amigo é alguém que tem sempre tempo para ti quando apareces.

Toda gente pode ter um amigo, mas não vivas tão apressado, que nem vejas que há alguém que quer ser teu amigo.

Um amigo é alguém que é para ti uma festa, alguém que pensa em ti e te ouve, e te ajuda a saber o que tu és. Alguém que está contigo, e não tem pressa. Alguém em quem tu podes acreditar! Quem é teu amigo?

Leif Kristiansson


UTOPIA E PAIXÃO

"É dos mais neuróticos e parasitários o amor que leva uma pessoa a achar a outra um pedaço de si mesma. (...)

O saudável, nas relações amorosas, seria primeiro, que as pessoas já tivessem conseguido crescer até o tamanho total de si própria. Depois, aprendesse a viver por si mesma e de si mesma. Só então acasalasse com alguém que tivesse tido igual desenvolvimento e soubesse viver de si mesma também. Assim, inteiros e juntos, começariam a viver sensações inéditas, extraordinárias, impossíveis de se viver sozinho e que não existem em nós nem sequer em semente. É o amor suplementar de que falamos. Nesse ponto, é bom proclamar o que se constitui em nossa ética fundamental: o amor não deve servir para coisa alguma, a não ser apenas para se amar.

Quando, por uma razão qualquer, a relação amorosa se desfaz, o que se desfaz de fato é só a relação amorosa e não as vidas e a integridade de cada um. E o que se tem observado é que, por mais denso que tenha sido o amor, quando ele se desfaz nas relações sadias (suplementares), surgem logo novos encontros, novos namoros e seduções; o amor pode se refazer. É outro, original, porém com intensidade e qualidade semelhante ao anterior."

Roberto Freire e Fausto Brito


O MITO DE NARCISO

“Em tempos idos, na Grécia, o rio Cefiso engravidou a ninfa Liríope. Meses depois, Liríope, apesar de não desejar a gravidez, deu a luz a uma criança de beleza extraordinária. Por causa disso, Liríope consultou o adivinho Tirésias sobre o futuro de seu filho, e ele vaticinou (profetizou) que Narciso viveria, desde que nunca visse sua própria imagem.

Sob essa condição, ele cresceu e tornou-se um moço tão belo quanto o fora quando criança. Não havia quem não se apaixonasse por ele. Narciso, entretanto, permanecia indiferente.

Um dia, porém, estando sedento, Narciso aproximou-se das águas plácidas de um lago e, ao curvar-se para beber, viu uma imagem refletida no espelho das águas. Maravilhado com sua própria figura, apaixonou-se por si mesmo. Desesperadamente, passou a precisar do objetivo de seu amor, viu que não conseguiria mais viver sem aquele ser deslumbrante. Sua vida reduziu-se à contemplação daquele jovem tão belo: desejava-o, queria possuí-lo. Desvairado, inclinando-se cada vez mais ao encontro do ser amado, mergulhou nos braços frio da morte.

Às margens do lago, nasceu uma entorpecedora flor: o narciso. Ela relembra para sempre o destino trágico daquele que , aparentemente apaixonado por si mesmo, era, na verdade, incapaz de amar”.


RECONHECIMENTO DO AMOR

Como nos enganamos fugindo ao amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar
sua espada coruscante, seu formidável
poder de penetrar o sangue e nele imprimir
uma orquídea de fogo e lágrimas.
Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu
Em doçura e celestes amavios.
Não queimava, não siderava; sorria,
Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso,
Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor
Que trazia para mim e que teus dedos confirmavam
Ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro,
o Outro que eu me supunha, o Outro que te imaginava,
quando – por esperteza do amor – senti que éramos um só.

Carlos Drummond de Andrade

Apaixonar...

“ Apaixonarmo-nos não é apenas sermos atraídos por uma pessoa, vê-la bela e desejável. É uma mudança interior de todo o ser; vemos o amado diferente porque nos tornamos diferentes. A nossa sensibilidade centuplicou-se, as cores tornaram-se luminosas, límpidos os sons. Pelo fato de o amarmos a ele, ao nosso amado, todas as outras pessoas nos surgem de outro modo. Antes de tudo mais humanas. Enquanto até aí mal a víamos, agora conseguimos intuir os seus sentimentos, é como se nos tivéssemos tornados capazes de nos pormos em comunicação com elas. Já não temos vontade de mentir. Sobretudo a nós próprios e ao ser amado. Percorremos de novo, na recordação, a nossa vida e percebemo-nos de que antes de termos encontrado quem amamos, esta vida era mesquinha, insípida. O ser amado não é a perfeição, vemos os seus defeitos; se é pequeno ou magro, ou tem o nariz comprido ou curto. Mas todas essas coisas deixam de se tornar defeitos, porque conseguimos agora ver a sua essencialidade e o seu valor. Os nossos olhos tornam-se capazes de descobrir a beleza do ser tal como é. E se o amado nos diz sim, então somos felizes e gostaríamos que o tempo parasse, e que todos os seres humanos fossem também felizes, e toda a humanidade e todo o universo a que nos sentimos unidos de modo íntimo e solidário.”

Albertoni



A ARTE DE AMAR

O amor não é, primacialmente, uma relação para com uma pessoa específica, é uma atitude, uma orientação de caráter, que determina a relação de alguém para com o mundo como um todo, e não para com um 'objeto' de amor. Se uma pessoa ama apenas a uma outra pessoa e é indiferente ao resto dos seus semelhantes, seu amor não é amor, mas um afeto simbiótico, ou um egoísmo ampliado.

Contudo, a maioria crê que o amor é constituído pelo objeto e não pela faculdade. De fato, acredita-se mesmo que a prova da intensidade do amor está em não amar ninguém além da pessoa 'amada'. Este é o mesmo equívoco de que acima já falamos. Por não se ver que o amor é uma atividade, uma força da alma, acredita-se que tudo quanto é necessário encontrar é o objeto certo - e tudo mais irá depois por si.

Tal atitude pode ser comparada à de alguém que queira pintar mas, em vez de aprender a arte, proclama que lhe basta esperar pelo objeto certo, passando a pintá-lo belamente quando o encontrar.

Se verdadeiramente amo alguém, então amo a todos, amo o mundo, amo a vida. Se posso dizer a outrem 'Eu te amo', devo ser capaz de dizer: "Amo em ti a todos, através de ti amo o mundo, amo-me a mim mesmo em ti".

Dizer que o amor é uma orientação que se refere a todos e não a um não implica, entretanto, a idéia de que não haja diferenças entre vários tipos de amor, que dependem da espécie de objeto que é amado.

Erich Fromm


TER O SEXO TORNOU FÁCIL, MAIS DIFICIL TER O AMOR

"Outra coisa, porém chama a minha atenção nos grupos de jovens que conheço: namoram muito e não namoram nada.

Namoram muito porque têm sempre um namorado ou uma namorada em campo, alguém em quem estão interessados, alguém que estão "azarando". Mas ao mesmo tempo não namoram nada, porque essas relações são muito inconsistentes. O casal se junta e se separa com a mesma facilidade. Não há amor, não há envolvimento. Há desejo hepidérmico. na verdade, não são namoros, são causalidades.

E como começam muito cedo, de uma causalidade em outra passa-se o tempo. Agradável a princípio, excitante, uma espécie de tiroteio cerrado de desejo, de busca, de troca. Mas cansativo a longo prazo, desapontador. Do amor afinal, esperavam mais do que isso.

Quando eu tinha 16 anos não se ia para a cama. Em compensação amava-se deliberadamente. Vai ver era por isso mesmo: não indo para a cama não se "esvaziava" o desejo, não se matava a sede, e então durante meses e meses, ia-se procurar aplaca-la na boca do amado, nas mãos errantes na acolhedora escuridão das matinês. Dentro de mim eu era uma grande eroína romântica, estava vivendo um grande amor .

Naquele tempo faltava uma coisa, hoje falta outra. Eu não podia me dar ao sexo. Eles não conseguem se dar ao amor. As moças com quem converso dizem que gostariam, que têm vontade de ter um namoro mais consistente, mas que os rapazes não querem. Será verdade? Mas será que eles não querem mesmo? Ou será que como elas, querem e não conseguem.

A tendência é achar que não param em nenhum(uma), porque podem ter todos(as).

Se eu disser que fogem do envolvimento porque costumam ter em casa exemplos de relação tumultuadas ou desastrosas, estarei fazendo psicologismo barato, porque a minha geração também teve exemplos paternais nada animadores.

Acontece também que são filhos diretos da baixa do amor, do descrédito da relaçao, e da ênfase nas emoções tonitruantes. Enquanto deixam o amor de lado, procuram terremotos emocionais no "som", no "brilho", "nos riscos".

Mas uma idéia me ocorre e parece ser mais acertada. A de que os jovens estejam de forma inconsciente, fugindo do amor justamente porque podem ter o sexo.

Explico melhor: o amor é uma emoção importante, mas o sexo também, mas só o amor somado ao sexo constitui a emoção fundamental do ser humano. Ora, nem todos os jovens têm o mesmo grau de amadurecimento.

E nem todos eles se sentem prontos para chegar ao topo do seu universo emocional. Antes todos podiam ter amor, e só os mais maduros - ou mais inconscientes - se lançavam na completude amor/sexo.

Agora acontece exatamente o oposto: tendo o sexo, evitam somá-lo ao amor, adiando a sobrecarga emocional que não se sentem capazes de enfrentar".

COLASSANATI, Marina. E por falar em amor. Rio de Janeiro: Salamadra, 1984.p 01-2


 A DEVORAÇÃO DA ESPERANÇA NO PRÓXIMO

No individualismo contemporâneo, a impessoalidade converteu-se em indiferença, e os elos afetivos da intimidade foram cercados do medo, reserva, reticência e desejo de autoproteção. Pouco a pouco desaprendemos a gostar de “gente”. Entre quatro paredes ou no anonimato das ruas, o semelhante não é mais o próximo solidário: é o inimigo que traz intranqüilidade, dor ou sofrimento. Conhecer alguém; aproximar-se de alguém; relacionar-se intimamente com alguém passou a ser uma tarefa cansativa. Tudo é motivo de conflito, desconfiança, incerteza e perplexidade. Ninguém satisfaz a ninguém. Na praça ou na casa vivemos – quando vivemos – uma felicidade de meio expediente em que reina a impressão de que perdemos a vida “em colherinhas de café”.

As elites ocidentais são elites sem causa e, no Brasil, estamos repetindo o que, secularmente, aprendemos a imitar. Como nossos modelos europeus e americanos, reagimos ao sentimento de miséria com medo; à opulência com apatia, imobilidade e conformismo. Construir um mundo justo? Para quê? Para quem? Por acaso um mundo mais justo seria aquele em que todos pudessem ter acesso ao que as elites têm?

Mas, o que têm as elites a oferecer? Consumo, tédio, insatisfação e ostentação. Bem ou mal, em nossa tradição moral e intelectual, respondíamos às crises de identidade, reinventando utópicas formas de vida em mundos melhores.

Hoje aposentamos os “Rousseau”. Em vez de utopias, manuais de auto-ajuda, psicofármacos, cocaína, e terapêuticos diversos para os que têm dinheiro; banditismo, vagabundagem, mendicância ou religiosismo fanático para os que apenas sobrevivem.

Fizemos de nossas vidas claustros sem virtudes; encolhemos nossos sonhos para que coubessem em nossas ínfimas singularidades interiores; vasculhamos nossos corpos, sexos e sentimentos com a obsessão de quem vive um transe narcísico, e, enfim, aqui estamos nós, prisioneiros de cartões de crédito, carreiras de cocaína e da dolorosa consciência de que nenhuma fantasia sexual ou romântica pode saciar a voracidade com que desejamos ser felizes. Sozinhos em nossa descrença, suplicamos proteção a economistas, policiais, especuladores e investidores estrangeiros, como se algum deles pudesse restituir a esperança “no próximo” que a lógica da mercadoria devorou.

FREIRE COSTA, Jurandir. Folha de S. Paulo, 22.09.1996. Mais 5º. Caderno


AMA E FAZE O QUE QUISERES
Santo Agostinho também procurou refletir sobre a melhor conduta que o ser humano devia seguir, delineando uma ética harmonizada com os preceitos morais cristãos. Na vida, há experiências que proporcionam prazer; entretanto, elas são apenas alegrias parciais e transitórias, incomparáveis com a felicidade absoluta de estar na presença de Deus. Essas experiências devem servir para que o homem dirija seu espírito ao verdadeiro bem, que é alcançável somente através de Jesus Cristo. Por exemplo, a contemplação das belezas naturais (como o céu, os mares, os animais, etc.) não deve ser apreciada como um fim em si mesma, mas sim como uma pequena amostra da verdadeira beleza, da alegria infinita que somente o criador de todas as coisas pode oferecer. Para Santo Agostinho, o amor é a essência da substância divina, está presente em todos os homens e é a energia que move o comportamento humano. Por isso, é por meio de seu direcionamento para a busca das verdades superiores que o homem pode atingir a felicidade de repousar em Deus. Em outras palavras, isso significa amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo, como determinam os evangelhos. O amor, entretanto, pode se dirigir para coisas passageiras, como o prazer carnal. Nesse caso, ele estará se desviando de sua natureza, que é a de almejar os prazeres superiores.

Por meio desse raciocínio, chegamos à definição agostiniana de “mal”. Nas palavras de Santo Agostinho, o mal é: “a perversão da vontade desviada da substância suprema”. É o amor dirigido às criaturas como se elas tivessem valor por si mesmas, como se a sua Beleza, o prazer que proporcionam ou o afeto com que retribuem o amor não se originassem do ato de amor infinito de Deus: a criação.

Assim decifra-se o dito agostiniano “ama e faze o que quiseres”: se o homem ama verdadeiramente, isto é, como Deus ama, com gratuidade e fazendo o bem aos outros, sua vontade será guiada corretamente; por isso, ser e agir conforme a própria vontade, iluminada pelo amor divino é a garantia de que essa liberdade de ação será justa, ou seja, ética. O amor que conduz o homem a agir corretamente segundo a vontade de Deus, conforme Santo Agostinho ensinou, só vem a existir no coração dos indivíduos pela ação da “graça”, na exposição da polêmica que o bispo de Hipona manteve contra a heresia dos pelagianos.

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. Editora Ática. São Paulo: 2005.

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