quarta-feira, 6 de junho de 2012

O Valor da Argumentação




(…) Muita gente pensa que argumentar é desagradável e inútil confundindo argumentar com discutir. Dizemos por vezes que discutir é uma espécie de luta verbal. Contudo, argumentar não é nada disso.




(…) Argumentar, quer dizer oferecer um conjunto de razões a favor de uma conclusão ou oferecer dados favoráveis para uma conclusão. Os argumentos são tentativas de apoiar certos pontos de vista com razões.
Os argumentos são essenciais, em primeiro lugar, porque são uma forma de tentar descobrir quais os melhores pontos de vista. Nem todos os pontos de vista são iguais. Algumas conclusões podem ser defendidas com boas razões e outras, com razões menos boas. No entanto, não sabemos, na maioria das vezes quais são as melhores conclusões. Precisamos, por isso, de apresentar argumentos para apoiar diferentes conclusões, e depois avaliar tais argumentos para ver se são realmente bons.

Neste sentido, um argumento é uma forma de investigação. Alguns filósofos e activistas argumentaram, por exemplo, que criar animais só para fornecer carne causa um sofrimento imenso aos animais e que, portanto, isso é injustificado e imoral. Será que têm razão? Não podemos decidir consultando os nossos preconceitos. Estão envolvidas muitas questões. Por exemplo, temos obrigações morais para com outras espécies, por exemplo, ou o sofrimento humano que é o único realmente mau? Podem os seres humanos viver realmente bem sem carne? Talvez as pessoas mais saudáveis tenham tendência para se tornarem vegetarianas, ao contrário das outras? Todas estas questões têm de ser consideradas cuidadosamente, e as respostas não são, à partida, óbvias.

Os argumentos também são essenciais por outra razão. Uma vez chegados a uma conclusão bem apoiada por razões, os argumentos são a maneira pela qual a explicamos e defendemos. Um bom argumento não se limita a repetir as conclusões. Em vez disso, oferece razões e dados para que as outras pessoas possam formar a sua própria opinião. Se o leitor ficar convencido que devemos realmente mudar a forma como criamos e usamos os animais, por exemplo, terá de usar argumentos para explicar como chegou a essa conclusão: é assim que convencerá as outras pessoas. Ofereça as razões e os dados que o convenceram a si. Ter opiniões fortes não é um erro. O erro é não ter mais nada.

As regras para argumentar não são, pois, arbitrárias: elas têm um objectivo específico. Muitos estudantes, quando lhes pedem que argumentem a favor dos seus pontos de vista acerca de um qualquer assunto, escrevem declarações(…) dos seus pontos de vista, mas não oferecem verdadeiramente nenhumas razões para pensar que os seus pontos de vista sãocorrectos. Escrevem um ensaio, mas não escrevem um ensaio argumentativo.
Anthony Weston, A Arte de Argumentar

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