terça-feira, 2 de outubro de 2012

SEMINÁRIO MULTIDISCIPLINAR

O QUE É FILOSOFIA?



“Qual é a coisa mais importante da vida?"
Se fazemos essa pergunta a uma pessoa de um país assolado pela fome, a resposta será: a comida. Se fazemos a mesma pergunta a quem está morrendo de frio, então a resposta será: o calor. E quando perguntamos a alguém que se sente sozinho e isolado, então, certamente, a resposta será: a companhia de outras pessoas.

Mas, uma vez satisfeitas todas essas necessidades, será que ainda resta alguma coisa de que todo mundo precise? Os filósofos acham que sim. Eles acham que o ser humano não vive apenas de pão.

É claro que todo mundo precisa de comida, de amor e de cuidado. Mas ainda há uma coisa de que todos nós precisamos. Nós temos a necessidade de descobrir quem somos e por que vivemos.

(...) Embora as questões filosóficas digam respeito a todas as pessoas, nem todas se tornam filósofos. Por diferentes motivos, a maioria delas é tão absorvida pelo cotidiano que a admiração pela vida acaba sendo completamente reprimida. Um filósofo nunca é capaz de se habituar completamente com este mundo. Para ele, o mundo continua a ter algo de incompreensível, algo até de enigmático, de secreto, embora a maioria das pessoas vivencie o mundo como uma coisa absolutamente normal. Isso quer dizer que ele sempre vê as coisas com espanto, a admiração ou a curiosidade, como se fosse a primeira vez.

(...) Em algum lugar, dentro de nós, alguma coisa nos diz que a vida é um grande enigma. E já experimentamos isto, muito antes de aprendermos a pensar. ”

GAARDER, Jostein. O que é Filosofia. In: O Mundo de Sofia. Companhia das Letras.

O que é a filosofia senão um modo de refletir, não tanto sobre aquilo que é verdadeiro e aquilo que é falso, mas sobre a nossa relação com a verdade? (...) Não há nenhuma filosofia soberana, é verdade, mas há uma filosofia ou, melhor, há filosofia em atividade. A filosofia é o movimento pelo qual nos libertamos – com esforços, hesitações, sonhos e ilusões – daquilo que passa por verdadeiro, a fim de buscar outras regras do jogo. A filosofia é o deslocamento e a transformação das molduras de pensamento, a modificação dos valores estabelecidos, e todo o trabalho que se faz para pensar diversamente, para fazer diversamente, para tornar-se outro do que se é (...)
FOUCAULT, Michel. Sobre a Filosofia. In Estética dell’esistenza, Etica, Politica, v. 3.


AUTORIDADE DO MITO


“O mito conta uma história sagrada, quer dizer, um acontecimento primordial que teve lugar no começo do Tempo, ab initio. Mas contar uma história sagrada equivale a revelar um mistério, pois as personagens do mito não são seres humanos: são deuses ou Heróis civilizadores. Por esta razão suas gesta constituem mistérios: o homem não poderia conhecê-los se não lhe fossem revelados. O mito é pois a história do que se passou in illo tempore, a narração daquilo que os deuses ou os Seres divinos fizeram no começo do Tempo. “Dizer” um mito é proclamar o que se passou ab origine. Uma vez “dito”, quer dizer, revelado, o mito torna-se verdade apodítica: funda a verdade absoluta. “É assim porque foi dito que é assim”, declaram os esquimós netsilik a fim de justificar a validade de sua história sagrada e suas tradições religiosas. O mito proclama a aparição de uma nova “situação” cósmica ou de um acontecimento primordial. Portanto, é sempre a narração de uma “criação”: conta se como qualquer coisa foi efetuada, começou a ser É por isso que o mito é solidário da ontologia: só fala das realidades, do que aconteceu realmente, do que se manifestou plenamente.”

O Sagrado e o Profano - Mircea Eliade


A MARAVILHA COMO INÍCIO DO FILOSOFAR



"A maravilha sempre foi, antes como agora, a causa pela qual os homens começaram a filosofar: a princípio, surpreendiam-se com as dificuldades mais comuns; depois, avançando passo a passo, tentavam explicar fenômenos maiores, como, por exemplo, as fases da lua o curso do sol e dos astros e, finalmente, a formação do universo. Procurar uma explicação é admirar-se; é reconhecer-se ignorante. Por isso, pode-se dizer que sob certo aspecto o filósofo é também amante do MITO: uma vez que o MITO se compõe de maravilhas."

Aristóteles, In: Reale, Giovanni (Ed.). Metafísica. São Paulo. Loyola, 2002. V. I.


FEBRE JÔNICA

Quando a Babilônia e o Egito declinaram chegou a vez da Grécia. No começo, desenvolveu-se a cosmologia grega quase no mesmo sentido: o mundo de Homero é outra ostra, mais colorida, um disco flutuante rodeado pelo oceano. Porém, pela época em que os textos de Odisséia e da Ilíada se consolidaram na versão definitiva, verificou-se na Jônia, nas costas do Mar Egeu, um novo desenvolvimento. O sexto século antes de Cristo – o milagroso século de Buda, Confúcio e Lao-Tsé, dos filósofos jônicos e de Pitágoras – constituiu o ponto crítico da espécie humana. Foi como se uma aragem de março soprasse através deste planeta, da China a Samos, despertando a consciência do homem, como o sopro nas narinas de Adão. Na escola jônica de filosofia, o pensamento racional ia emergindo no mundo de sonho mitológico. Era o início da grande aventura: a indagação prometiana* das explicações naturais e causas racionais, que, nos 2 mil anos seguintes, transformaria a espécie mais radicalmente do que haviam feito os 200 mil anos anteriores.

Koestler, Arthur. Os sonâmbulos. São Paulo: Ibrasa, 1961, p. 5.

*Prometiano: próprio de Prometeu, personagem da mitologia grega que roubou o fogo aos deuses e o entregou aos homens, dando-lhes a possibilidade do conhecimento e do progresso. Zeus o puniu, acorrentando-o numa rocha para que uma águia lhe devorasse o fígado eternamente.



A FILOSOFIA COMO PROCURA DA VERDADE

Em seu pequeno e brilhante livro Introdução à Filosofia, o filósofo e psiquiatra alemão, Karl Jaspers insiste na idéia de que a essência da filosofia é a procura do saber e não a sua posse. Todavia, ela “se trai a si mesma quando degenera em dogmatismo, isto é, num saber posto em fórmula, definitivo, completo. Fazer filosofia é estar a caminho; as perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas, e cada resposta transforma-se numa nova pergunta”. Há, então, na pesquisa filosófica uma humildade autêntica que se opõe ao orgulhoso dogmatismo do fanático: o fanático está certo de possuir a verdade. Assim sendo, ele não tem mais necessidade de pesquisar e sucumbe à tentação de impor sua verdade a outrem. Acreditando estar com a verdade, ele não tem mais o cuidado de se tornar verdadeiro; a verdade é seu bem, sua propriedade, enquanto para o filósofo é uma exigência. No caso do fanático, a busca da verdade degradou-se na ilusão da posse de uma certeza. Ele se acredita o proprietário da certeza, ao passo que o filósofo esforça-se por ser peregrino da verdade. A humildade filosófica consiste em dizer que a verdade não pertence mais a mim que a ti, mas que ela está diante de nós. Assim, a consciência filosófica não é uma consciência feliz, satisfeita com a posse de um saber absoluto, nem uma consciência infeliz, presa das torturas de um ceticismo irremediável. Ela é uma consciência inquieta, insatisfeita com o que possui, mas à procura de uma verdade para a qual se sente talhada.

HUISMAN, Denis; VERGEZ, A. Ação. 2. ed. SP: Freitas Bastos, 1966, v. 1, p. 24.


POEMA

”Sozinho vou agora, meus discípulos! Também vós, ide embora, e sozinhos! Assim quero eu.

Afastai-vos de mim e defendei-vos de Zaratustra! E, melhor ainda: envergonhai-vos dele! Talvez vos tenha enganado.

O homem do conhecimento não precisa somente amar seus inimigos, precisa também poder odiar seus amigos.

Paga-se mal a um mestre, quando se continua sempre a ser apenas o aluno. E por que não quereis arrancar minha coroa de louros?

Vós me venerais, mas, e se um dia vossa veneração desmoronar? Guardai-vos de que não vos esmague uma estatua!

Dizeis que acreditais em Zaratustra? Mas que importa Zaratustra ! Sois meus crentes, mas que importam todos os crentes!

Ainda não vos havíeis procurado: então me encontrastes. Assim fazem todos os crentes; por isso importa tão pouco toda crença.

Agora vos mando me perderdes e vos encontrardes; e somente quando me tiverdes todos renegado eu retornarei a vós... Apesar do inverno mais rigoroso, e do verão ainda, mais inclemente, por causa do aquecimento global, (meu caro, Alvani Correia), aproveito os momentos de dúvidas, depois de uma leitura em voz alta deste poema, para compartilhar a solidão a dois, como nos ensina Baruch Spinosa. Afinal, o príncipe dos filósofos moderno, já dizia que “não existem bem e mal como ensina a tradição judaico-cristã, mas apenas o bom e o mau encontro”.

NIETZSCHE, Friedrich. Obras incompletas: São Paulo: Abril, 1974 p. 375 (Os Pensadores, 32)

Grandes temas da Filosofia - Seminário

A ARTE DE AMAR

O homem é dotado de razão; é a vida consciente de si mesma; tem, consciência de si, de: seus semelhantes, de seu passado e das possibilidades de seu futuro. Essa consciência de si mesmo como entidade separada, a consciência de seu próprio e curto período de vida, do fato de haver nascido sem ser por vontade própria e de ter de morrer contra sua vontade, de ter de morrer antes daqueles que ama, ou estes antes dele, a consciência de sua solidão e separação, de sua impotência ante as forças da natureza e da sociedade, tudo isso faz de sua existência apartada e desunida uma prisão insuportável. Ele ficaria louco se não pudesse libertar-se de tal prisão e alcançar os homens, unir-se de uma forma ou de outra com eles, com o mundo exterior.

Erich Fromm

Amigo

Um amigo é alguém com quem se está bem, mas um amigo é muito mais que isso, é alguém que pensa em ti quando não estás aqui, alguém que pede a Deus por ti, quando tens que fazer algo dificil. Nunca se está realmente só quando se tem um amigo.

Um amigo ouve o que tu dizes, e tenta compreender o que tu não sabes dizer. Mas um amigo não está sempre de acordo contigo, um amigo contradiz-te e obriga-te a pensar honestamente. Um amigo gosta de ti, mesmo que faças besteiras. Um amigo ensina-te a gostar de coisas novas, não teria imaginado estás coisas se estivesses sozinho.

Amigo é uma palavra bonita, é quase a melhor palavra!! Um amigo é alguém que tem sempre tempo para ti quando apareces.

Toda gente pode ter um amigo, mas não vivas tão apressado, que nem vejas que há alguém que quer ser teu amigo.

Um amigo é alguém que é para ti uma festa, alguém que pensa em ti e te ouve, e te ajuda a saber o que tu és. Alguém que está contigo, e não tem pressa. Alguém em quem tu podes acreditar! Quem é teu amigo?

Leif Kristiansson


UTOPIA E PAIXÃO

"É dos mais neuróticos e parasitários o amor que leva uma pessoa a achar a outra um pedaço de si mesma. (...)

O saudável, nas relações amorosas, seria primeiro, que as pessoas já tivessem conseguido crescer até o tamanho total de si própria. Depois, aprendesse a viver por si mesma e de si mesma. Só então acasalasse com alguém que tivesse tido igual desenvolvimento e soubesse viver de si mesma também. Assim, inteiros e juntos, começariam a viver sensações inéditas, extraordinárias, impossíveis de se viver sozinho e que não existem em nós nem sequer em semente. É o amor suplementar de que falamos. Nesse ponto, é bom proclamar o que se constitui em nossa ética fundamental: o amor não deve servir para coisa alguma, a não ser apenas para se amar.

Quando, por uma razão qualquer, a relação amorosa se desfaz, o que se desfaz de fato é só a relação amorosa e não as vidas e a integridade de cada um. E o que se tem observado é que, por mais denso que tenha sido o amor, quando ele se desfaz nas relações sadias (suplementares), surgem logo novos encontros, novos namoros e seduções; o amor pode se refazer. É outro, original, porém com intensidade e qualidade semelhante ao anterior."

Roberto Freire e Fausto Brito


O MITO DE NARCISO

“Em tempos idos, na Grécia, o rio Cefiso engravidou a ninfa Liríope. Meses depois, Liríope, apesar de não desejar a gravidez, deu a luz a uma criança de beleza extraordinária. Por causa disso, Liríope consultou o adivinho Tirésias sobre o futuro de seu filho, e ele vaticinou (profetizou) que Narciso viveria, desde que nunca visse sua própria imagem.

Sob essa condição, ele cresceu e tornou-se um moço tão belo quanto o fora quando criança. Não havia quem não se apaixonasse por ele. Narciso, entretanto, permanecia indiferente.

Um dia, porém, estando sedento, Narciso aproximou-se das águas plácidas de um lago e, ao curvar-se para beber, viu uma imagem refletida no espelho das águas. Maravilhado com sua própria figura, apaixonou-se por si mesmo. Desesperadamente, passou a precisar do objetivo de seu amor, viu que não conseguiria mais viver sem aquele ser deslumbrante. Sua vida reduziu-se à contemplação daquele jovem tão belo: desejava-o, queria possuí-lo. Desvairado, inclinando-se cada vez mais ao encontro do ser amado, mergulhou nos braços frio da morte.

Às margens do lago, nasceu uma entorpecedora flor: o narciso. Ela relembra para sempre o destino trágico daquele que , aparentemente apaixonado por si mesmo, era, na verdade, incapaz de amar”.


RECONHECIMENTO DO AMOR

Como nos enganamos fugindo ao amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar
sua espada coruscante, seu formidável
poder de penetrar o sangue e nele imprimir
uma orquídea de fogo e lágrimas.
Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu
Em doçura e celestes amavios.
Não queimava, não siderava; sorria,
Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso,
Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor
Que trazia para mim e que teus dedos confirmavam
Ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro,
o Outro que eu me supunha, o Outro que te imaginava,
quando – por esperteza do amor – senti que éramos um só.

Carlos Drummond de Andrade

Apaixonar...

“ Apaixonarmo-nos não é apenas sermos atraídos por uma pessoa, vê-la bela e desejável. É uma mudança interior de todo o ser; vemos o amado diferente porque nos tornamos diferentes. A nossa sensibilidade centuplicou-se, as cores tornaram-se luminosas, límpidos os sons. Pelo fato de o amarmos a ele, ao nosso amado, todas as outras pessoas nos surgem de outro modo. Antes de tudo mais humanas. Enquanto até aí mal a víamos, agora conseguimos intuir os seus sentimentos, é como se nos tivéssemos tornados capazes de nos pormos em comunicação com elas. Já não temos vontade de mentir. Sobretudo a nós próprios e ao ser amado. Percorremos de novo, na recordação, a nossa vida e percebemo-nos de que antes de termos encontrado quem amamos, esta vida era mesquinha, insípida. O ser amado não é a perfeição, vemos os seus defeitos; se é pequeno ou magro, ou tem o nariz comprido ou curto. Mas todas essas coisas deixam de se tornar defeitos, porque conseguimos agora ver a sua essencialidade e o seu valor. Os nossos olhos tornam-se capazes de descobrir a beleza do ser tal como é. E se o amado nos diz sim, então somos felizes e gostaríamos que o tempo parasse, e que todos os seres humanos fossem também felizes, e toda a humanidade e todo o universo a que nos sentimos unidos de modo íntimo e solidário.”

Albertoni



A ARTE DE AMAR

O amor não é, primacialmente, uma relação para com uma pessoa específica, é uma atitude, uma orientação de caráter, que determina a relação de alguém para com o mundo como um todo, e não para com um 'objeto' de amor. Se uma pessoa ama apenas a uma outra pessoa e é indiferente ao resto dos seus semelhantes, seu amor não é amor, mas um afeto simbiótico, ou um egoísmo ampliado.

Contudo, a maioria crê que o amor é constituído pelo objeto e não pela faculdade. De fato, acredita-se mesmo que a prova da intensidade do amor está em não amar ninguém além da pessoa 'amada'. Este é o mesmo equívoco de que acima já falamos. Por não se ver que o amor é uma atividade, uma força da alma, acredita-se que tudo quanto é necessário encontrar é o objeto certo - e tudo mais irá depois por si.

Tal atitude pode ser comparada à de alguém que queira pintar mas, em vez de aprender a arte, proclama que lhe basta esperar pelo objeto certo, passando a pintá-lo belamente quando o encontrar.

Se verdadeiramente amo alguém, então amo a todos, amo o mundo, amo a vida. Se posso dizer a outrem 'Eu te amo', devo ser capaz de dizer: "Amo em ti a todos, através de ti amo o mundo, amo-me a mim mesmo em ti".

Dizer que o amor é uma orientação que se refere a todos e não a um não implica, entretanto, a idéia de que não haja diferenças entre vários tipos de amor, que dependem da espécie de objeto que é amado.

Erich Fromm


TER O SEXO TORNOU FÁCIL, MAIS DIFICIL TER O AMOR

"Outra coisa, porém chama a minha atenção nos grupos de jovens que conheço: namoram muito e não namoram nada.

Namoram muito porque têm sempre um namorado ou uma namorada em campo, alguém em quem estão interessados, alguém que estão "azarando". Mas ao mesmo tempo não namoram nada, porque essas relações são muito inconsistentes. O casal se junta e se separa com a mesma facilidade. Não há amor, não há envolvimento. Há desejo hepidérmico. na verdade, não são namoros, são causalidades.

E como começam muito cedo, de uma causalidade em outra passa-se o tempo. Agradável a princípio, excitante, uma espécie de tiroteio cerrado de desejo, de busca, de troca. Mas cansativo a longo prazo, desapontador. Do amor afinal, esperavam mais do que isso.

Quando eu tinha 16 anos não se ia para a cama. Em compensação amava-se deliberadamente. Vai ver era por isso mesmo: não indo para a cama não se "esvaziava" o desejo, não se matava a sede, e então durante meses e meses, ia-se procurar aplaca-la na boca do amado, nas mãos errantes na acolhedora escuridão das matinês. Dentro de mim eu era uma grande eroína romântica, estava vivendo um grande amor .

Naquele tempo faltava uma coisa, hoje falta outra. Eu não podia me dar ao sexo. Eles não conseguem se dar ao amor. As moças com quem converso dizem que gostariam, que têm vontade de ter um namoro mais consistente, mas que os rapazes não querem. Será verdade? Mas será que eles não querem mesmo? Ou será que como elas, querem e não conseguem.

A tendência é achar que não param em nenhum(uma), porque podem ter todos(as).

Se eu disser que fogem do envolvimento porque costumam ter em casa exemplos de relação tumultuadas ou desastrosas, estarei fazendo psicologismo barato, porque a minha geração também teve exemplos paternais nada animadores.

Acontece também que são filhos diretos da baixa do amor, do descrédito da relaçao, e da ênfase nas emoções tonitruantes. Enquanto deixam o amor de lado, procuram terremotos emocionais no "som", no "brilho", "nos riscos".

Mas uma idéia me ocorre e parece ser mais acertada. A de que os jovens estejam de forma inconsciente, fugindo do amor justamente porque podem ter o sexo.

Explico melhor: o amor é uma emoção importante, mas o sexo também, mas só o amor somado ao sexo constitui a emoção fundamental do ser humano. Ora, nem todos os jovens têm o mesmo grau de amadurecimento.

E nem todos eles se sentem prontos para chegar ao topo do seu universo emocional. Antes todos podiam ter amor, e só os mais maduros - ou mais inconscientes - se lançavam na completude amor/sexo.

Agora acontece exatamente o oposto: tendo o sexo, evitam somá-lo ao amor, adiando a sobrecarga emocional que não se sentem capazes de enfrentar".

COLASSANATI, Marina. E por falar em amor. Rio de Janeiro: Salamadra, 1984.p 01-2


 A DEVORAÇÃO DA ESPERANÇA NO PRÓXIMO

No individualismo contemporâneo, a impessoalidade converteu-se em indiferença, e os elos afetivos da intimidade foram cercados do medo, reserva, reticência e desejo de autoproteção. Pouco a pouco desaprendemos a gostar de “gente”. Entre quatro paredes ou no anonimato das ruas, o semelhante não é mais o próximo solidário: é o inimigo que traz intranqüilidade, dor ou sofrimento. Conhecer alguém; aproximar-se de alguém; relacionar-se intimamente com alguém passou a ser uma tarefa cansativa. Tudo é motivo de conflito, desconfiança, incerteza e perplexidade. Ninguém satisfaz a ninguém. Na praça ou na casa vivemos – quando vivemos – uma felicidade de meio expediente em que reina a impressão de que perdemos a vida “em colherinhas de café”.

As elites ocidentais são elites sem causa e, no Brasil, estamos repetindo o que, secularmente, aprendemos a imitar. Como nossos modelos europeus e americanos, reagimos ao sentimento de miséria com medo; à opulência com apatia, imobilidade e conformismo. Construir um mundo justo? Para quê? Para quem? Por acaso um mundo mais justo seria aquele em que todos pudessem ter acesso ao que as elites têm?

Mas, o que têm as elites a oferecer? Consumo, tédio, insatisfação e ostentação. Bem ou mal, em nossa tradição moral e intelectual, respondíamos às crises de identidade, reinventando utópicas formas de vida em mundos melhores.

Hoje aposentamos os “Rousseau”. Em vez de utopias, manuais de auto-ajuda, psicofármacos, cocaína, e terapêuticos diversos para os que têm dinheiro; banditismo, vagabundagem, mendicância ou religiosismo fanático para os que apenas sobrevivem.

Fizemos de nossas vidas claustros sem virtudes; encolhemos nossos sonhos para que coubessem em nossas ínfimas singularidades interiores; vasculhamos nossos corpos, sexos e sentimentos com a obsessão de quem vive um transe narcísico, e, enfim, aqui estamos nós, prisioneiros de cartões de crédito, carreiras de cocaína e da dolorosa consciência de que nenhuma fantasia sexual ou romântica pode saciar a voracidade com que desejamos ser felizes. Sozinhos em nossa descrença, suplicamos proteção a economistas, policiais, especuladores e investidores estrangeiros, como se algum deles pudesse restituir a esperança “no próximo” que a lógica da mercadoria devorou.

FREIRE COSTA, Jurandir. Folha de S. Paulo, 22.09.1996. Mais 5º. Caderno


AMA E FAZE O QUE QUISERES
Santo Agostinho também procurou refletir sobre a melhor conduta que o ser humano devia seguir, delineando uma ética harmonizada com os preceitos morais cristãos. Na vida, há experiências que proporcionam prazer; entretanto, elas são apenas alegrias parciais e transitórias, incomparáveis com a felicidade absoluta de estar na presença de Deus. Essas experiências devem servir para que o homem dirija seu espírito ao verdadeiro bem, que é alcançável somente através de Jesus Cristo. Por exemplo, a contemplação das belezas naturais (como o céu, os mares, os animais, etc.) não deve ser apreciada como um fim em si mesma, mas sim como uma pequena amostra da verdadeira beleza, da alegria infinita que somente o criador de todas as coisas pode oferecer. Para Santo Agostinho, o amor é a essência da substância divina, está presente em todos os homens e é a energia que move o comportamento humano. Por isso, é por meio de seu direcionamento para a busca das verdades superiores que o homem pode atingir a felicidade de repousar em Deus. Em outras palavras, isso significa amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo, como determinam os evangelhos. O amor, entretanto, pode se dirigir para coisas passageiras, como o prazer carnal. Nesse caso, ele estará se desviando de sua natureza, que é a de almejar os prazeres superiores.

Por meio desse raciocínio, chegamos à definição agostiniana de “mal”. Nas palavras de Santo Agostinho, o mal é: “a perversão da vontade desviada da substância suprema”. É o amor dirigido às criaturas como se elas tivessem valor por si mesmas, como se a sua Beleza, o prazer que proporcionam ou o afeto com que retribuem o amor não se originassem do ato de amor infinito de Deus: a criação. 

Assim decifra-se o dito agostiniano “ama e faze o que quiseres”: se o homem ama verdadeiramente, isto é, como Deus ama, com gratuidade e fazendo o bem aos outros, sua vontade será guiada corretamente; por isso, ser e agir conforme a própria vontade, iluminada pelo amor divino é a garantia de que essa liberdade de ação será justa, ou seja, ética. O amor que conduz o homem a agir corretamente segundo a vontade de Deus, conforme Santo Agostinho ensinou, só vem a existir no coração dos indivíduos pela ação da “graça”, na exposição da polêmica que o bispo de Hipona manteve contra a heresia dos pelagianos.

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. Editora Ática. São Paulo: 2005.

O Conceito de “Esclarecimento” Segundo Kant

O Conceito de “Esclarecimento” Segundo Kant  Immanuel Kant escreve um artigo tentando responder a pergunta “O que é  esclarecimento ?”...