sexta-feira, 27 de abril de 2012

What a Wonderful World (Que mundo maravilhoso)



I see trees of green, red roses too
(Eu vejo árvores verdes, rosas vermelhas também)
I see them bloom for me and you
(Eu as vejo florescer para mim e para você)
and I think to myself, what a wonderful world
(E eu penso comigo, que mundo maravilhoso)

I see skies of blue and clouds of white
(Eu vejo céus azuis e nuvens brancas)
the bright blessed day, the dark sacred night
(O dia luminoso e abençoado, a noite escura e sagrada)
and I think to myself, what a wonderful world
(e penso comigo, que mundo maravilhoso)

the colors of the rainbow, so pretty in the sky
(as cores do arco-iris, tão lindas no céu)
are also on the faces of people going by
(também estão nos rostos das pessoas que passam)
I see friends shaking hands, saying, "how do you do?"
(Eu vejo os amigos apertando as mãos e dizendo “Como vai você?”)
they`re really saying, "I love you"
(Eles estão realmente dizendo “Eu amo você”)

I hear babies cry, I watch them grow
(Eu vejo bebês chorando, Eu os vejo crescer)
they`ll learn much more, than I`ll never know
(Eles aprenderão muito mais do que eu jamais saberei)
and I think to myself, what a wonderful world
(E eu penso comigo, que mundo maravilhoso)
yes, I think to myself, what a wonderful world
(Sim, eu penso comigo, que mundo maravilhoso)
Letras e Música de George Weiss e Bob Tiele
Interpretada com maestria por Louis Armstrong
Dê adeus ao negativismo. Abra os olhos e admire o mundo ao seu redor. Acredite na vida. Tenha fé (seja ela qual for). Todos os dias quando acordamos estamos dando seqüência ao grande milagre da vida. Poucas pessoas têm pensado a respeito disso. A maioria dos seres humanos está tão envolvida com os afazeres do cotidiano que raramente se concede o necessário tempo para compreender o quanto somos abençoados por cada minuto de vida que temos a nossa disposição.
Por que estou falando isso? Todos os dias encontro mais pessoas preocupadas com as contas que têm que pagar do que com os próprios filhos. A cada manhã cruzo com um sem-número de outros indivíduos tão encucados com os rumos de seus times ou com a política do país que não arrumam mais tempo para dizer o quanto amam alguém...
Há uma enorme quantidade de razões para achar que o mundo ao nosso redor é realmente maravilhoso, como nos diz a canção magistralmente eternizada pela voz de Louis Armstrong. Aliás, escutar essa música já é um grande privilégio e um ótimo motivo para curtir a vida.
Podemos lembrar da letra de música e repetir aquilo que nos dizem tantas vezes os poetas e os músicos, ou seja, que há muita cor e beleza na mãe natureza, sabores variados e deliciosos em nossas comidas, odores fantásticos nas mais diversas flores, um mais que romântico brilho na lua ou ainda a água dos mares para acalmar o nosso espírito e nos preparar para dias ainda melhores.
O que pode ser mais reconfortante para cada um de nós que o abraço carinhoso ou o sorriso franco e aberto de uma criança? O que pode nos dar mais segurança e tranqüilidade do que o acalanto de nossos pais ou cônjuges? O que há de mais gostoso nesse mundo do que uma reunião com nossos melhores amigos para conversar e se divertir?
É, Louis Armstrong tinha razão quando nos dizia que as cores do arco-íris que dão graça e encanto aos céus também podem ser encontradas nos rostos das pessoas... não é tão difícil assim, basta apenas que acreditemos e iluminemos os nossos e os dias dos outros com bom-humor e esse mundo se tornará, certamente, um mundo maravilhoso...

"Os sábios discutem ideias. Os tolos discutem o comportamento dos outros." (Confúcio, filósofo e pensador chinês)
Sempre acreditei que o mais importante é a realização, o trabalho honesto, a dignidade, a ética e o respeito aos outros. Também advogo, desde sempre, o valor e a importância do bom humor, da capacidade de rirmos de nós mesmos, de nossas vaidades, do ego (por vezes) inflado, da seriedade excessiva...
Ouvi de pessoas experientes (na vida e no trabalho), que a crítica deve sempre ser feita de forma privada e o elogio, por sua vez, público... Mais do que aprender, tenho sempre prezado esta prática e, tenho orgulho de afirmar isto, em momento algum de minha vida pessoal ou profissional, expus alguém a qualquer crítica perante outras pessoas enquanto, no que se refere aos elogios, sem jamais exagerar ou subestimar, procuro torná-los de conhecimento geral...
A sabedoria contida nesta simples e singular frase de Confúcio encerra algo com que devemos nos preocupar cada vez mais neste mundo veloz, competitivo, mordaz e ferino, ou seja, com o embate quanto a ideias, proposições, realizações e diferentes modos de compreender e viver o mundo em todas as suas possibilidades e não no que tange ao comportamento alheio...
E se, ainda assim tivermos ressalvas, observações ou considerações acerca de outras pessoas, que nossa preocupação, se genuína e fraterna, procure preservar o próximo ao invés de colocá-lo no epicentro do furacão...

Por você (Barão Vermelho)


Por você eu dançaria tango no teto
Eu limparia os trilhos do metrô
Eu iria a pé do Rio a Salvador
Eu aceitaria a vida como ela é
Viajaria a prazo pro inferno
Tomaria banho gelado no inverno
Por você eu deixaria de beber
Por você eu ficaria rico num mês
Dormiria de meias pra virar burguês
Eu mudaria até o meu nome
Eu viveria em greve de fome
Desejaria a mesma mulher
Por você, por você
Por você, por você
Por você conseguiria até ficar alegre
Eu pintaria todo o céu de vermelho
Eu teria mais herdeiros que um coelho
Eu aceitaria a vida como ela é
Viajaria a prazo pro inferno
Eu tomaria banho gelado no inverno
Eu mudaria até o meu nome
Eu viveria em greve de fome
Desejaria todo o dia a mesma mulher
Por você, por você
Por você, por você
O que você seria capaz de fazer pelas pessoas que ama? Você seria capaz de tomar banho gelado no inverno? Mudaria de nome? Iria a pé do Rio a Salvador? Ou viveria em greve de fome?
Nos últimos tempos tenho visto poucas declarações de amor tão contundentes quanto essa música. Pena que a ênfase dada na poesia dessa canção não esteja encontrando o respaldo que merece na vida real...
E o que é a vida sem o amor? Nada além de um arremedo de existência. É como o fogo que não ilumina ou que não aquece. Parece com a água que não mata a sede ou não refresca o corpo...
Falta-nos o comprometimento. Não há amor sem um real comprometimento assim como quando não nos envolvemos verdadeiramente é porque nos falta o mais nobre e profundo dos sentimentos.
Há aqueles que nem a si mesmos devotam o seu amor. Outros deixam de expressar o seu sentimento pelos cônjuges e filhos. Existem ainda os que não gostam do mundo e, consequentemente, da própria vida...
Quem não ama muitas vezes acaba sem o amor que tanto necessita (e todos nós precisamos). E não me refiro aqui ao amor das declarações, das palavras. Falo do sentimento que alimenta e nos energiza em todo e qualquer dia de nossas existências.
Acredite. Viva com intensidade seus amores. Ilumine a vida de quem é importante para você. Em contrapartida eles serão capazes de tudo... por você!!!

A inevitabilidade da dor e a opcionalidade do sofrimento Autoria Desconhecida


A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.
(Autor Desconhecido)
Nosso egoísmo constantemente nos compele a reclamar da vida. Achamos ruim porque o trânsito está congestionado. Resmungamos em virtude da fila do banco. Nos sentimos infelizes por nossos saldos bancários. Invejamos aqueles que têm mais do temos. Queremos a onipotência e a onipresença que nos garanta estar em todos os cantos desfrutando de autoridade e força perante qualquer um...
Quando fazemos isso despertamos, inconscientemente, a fúria dos céus. Como ousamos reclamar tanto se temos saúde? O que nos leva a desfilar nosso rosário de queixas se estamos empregados e trabalhando? Por que queremos ter mais do que temos se vivemos confortavelmente? Que motivos nos fazem infelizes se desfrutamos do amor e do carinho de nossos mais próximos entes?
Parece que em momento algum de nossas vidas nos sentimos totalmente bem, da forma como tanto almejamos. Somos escravos de um modo de vida consumista e nos perdemos diante de tantos desejos que são propositalmente colocados em nossas cabeças. Somos pequenos demais para compreender que as maiores alegrias de nossas vidas podem ser resumidas apenas nos sentimentos mais puros que temos em relação aos amigos e familiares e que, em contrapartida, recebemos dos mesmos...
Nos descabelamos por motivos banais. Arremetemos muitas vezes essa nossa insatisfação em direção às pessoas que fazem a vida valer a pena. Destilamos nosso rancor e amargura em nosso ambiente de trabalho e acabamos magoando pessoas que só nos querem bem. Já parou para pensar nisso? Quantas pessoas queridas você magoou somente por não ter conseguido aquela promoção ou o carro novo com que sonhava?
Não podemos permitir que sejamos prisioneiros dessas pequenas e injustificadas faltas ou ausências materiais. O que nos resta depois de toda a vida percorrida senão o abraço forte, o afago carinhoso, o beijo apaixonado ou a mão que nos ajuda a levantar quando somos derrotados? É desse memorial que devemos tirar a razão de viver.
Temos que arriscar mais. Não podemos deixar a vida passar sem ter dito com plenas palavras o quanto amamos alguém. A chuva que cai lá fora está lhe convidando para um reconfortante e refrescante caminhar, porque não ir? O mergulho na água do mar está lhe fazendo falta, o que lhe impede de estar lá, aproveitando a vida? A ausência de uma pessoa querida o magoa e fere a ponto de doer o coração, que tal ir de encontro a esse amor?
Não permita que a vida passe ao largo sem que você possa curtir cada momento precioso que temos nesse mundo. Sorria para a vida e para as pessoas. Temos apenas alguns anos de existência e cada minuto deles deve ser sorvido como a melhor refeição que já tivemos a oportunidade de experimentar. Dê a si mesmo o maior de todos os presentes, a felicidade...
O autor trouxe a nós a alegria a partir de suas poesias e textos. Deixou-nos um legado de valor inestimável e através de suas palavras nos permite vôos altos rumo a imensidão dos céus e mergulhos profundos em direção a necessária compreensão de nossas almas e existências. Sorver cada uma de suas preciosas letras é também um exercício de satisfação na busca pela paz interior que tanto desejamos...

O facto de haver perspetivas diferentes justificará o relativismo?

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Proposta para Debate ( Reflexão - E.E.Sapopemba )




A defesa dos direitos humanos e do relativismo cultural serão compatíveis?

Desidério Murcho escreveu na Crítica (revista de Filosofia online) um interessante e informativo artigo sobre ética e direitos humanos de que a seguir transcrevo algumas passagens. Este artigo pode ser lido na íntegra aqui.
Aconselho a sua leitura, sobretudo aos alunos do 10º ano.
«(…) A ética não é um mero conjunto mais ou menos arbitrário de códigos de conduta; entre outras coisas, é o estudo cuidadoso das razões a favor ou contra a nossa conduta. Isto significa que em ética se dá muita importância à argumentação: queremos saber que razões há para agir ou não agir de determinada maneira, por exemplo.
O relativismo cultural, em ética, distingue-se da mera diversidade cultural. A diversidade cultural é apenas a existência de diversas culturas, eventualmente com diferentes códigos de comportamento. O relativismo cultural é uma tese ética: um tipo particular de relativismo moral. O relativismo moral é qualquer posição que defenda que as acções são correctas ou incorrectas, e os estados de coisas são bons ou maus, relativa e não absolutamente. Relativamente a quê? Depende do tipo de relativismo moral. Quando se defende que são relativos ao tempo histórico, trata-se de relativismo histórico; quando se defende que são relativos a cada pessoa em particular, trata-se de subjectivismo; quando se defende que são relativos a culturas ou mentalidades, trata-se de relativismo cultural. Estes são três tipos de relativismo moral, e podem ser combinados entre si.
(…) Quem se opõe ao relativismo moral considera que as acções nem sempre são correctas ou incorrectas em função do que as pessoas consideram, e portanto que a maior parte das pessoas de uma dada cultura pode considerar que, por exemplo, excluir as mulheres e negros seja moralmente correcto, apesar de na realidade isso não ser moralmente correcto (…).
Assim, o relativismo cultural é a ideia de que todas acções são correctas ou incorrectas consoante são consideradas correctas ou incorrectas numa dada cultura. A negação disto é a ideia de que nem todas as acções são correctas ou incorrectas em função do que as pessoas pensam. O relativista nunca vê diferença entre considerar-se numa dada cultura que algo é moralmente correcto e algo ser moralmente correcto, ao passo que o seu opositor defende que pelo menos em alguns casos existe tal diferença.
O relativista moral tem de defender que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pelas Nações Unidas no dia 10 de Dezembro de 1948, não exprime princípios éticos universais em qualquer sentido robusto do termo. Apesar de esta declaração ter sido aprovada por unanimidade nas Nações Unidas (com a abstenção de alguns países, como a União Soviética, a Polónia e a África do Sul), o relativista cultural terá de defender que a violação de qualquer dos direitos consagrados na Declaração é eticamente permissível desde que seja permissível numa dada cultura. Assim, se numa dada cultura se considera que é correcto discriminar as pessoas com base na origem étnica ou no sexo, violando o artigo segundo da Declaração, o relativista tem de aceitar que nessa cultura é correcto fazer tal coisa e que a Declaração se limita a exprimir uma convicção diferente.
Muitas pessoas que aceitam o relativismo cultural rejeitam a ideia de que é eticamente permissível violar qualquer um dos direitos humanos consagrados na Declaração. Mas estas duas ideias são incompatíveis. O relativismo cultural é incompatível com a ideia de direitos humanos universais.
(…) o debate ético não é factual, nem diz respeito à verificação de factos. Diz respeito, antes, à argumentação, à apresentação de razões, cuidadosamente pensadas e pesadas. E por isso é largamente irrelevante que existam desacordos morais entre culturas — porque as pessoas enganam-se ao raciocinar. Pior: muitos desses enganos são mal-intencionados, pois são interesseiros. Como comecei por dizer, não acredito que algum alemão pudesse honestamente pensar que os judeus eram sub-humanos — mas era proveitoso pensar tal coisa e por isso tudo o que parecesse justificar tal ideia era aceite sem mais discussão.
Assim, perante a diversidade de comportamentos tidos como morais em diferentes sociedades, devemos perguntar que razões há a favor ou contra tais comportamentos. E a procura dessas razões não pode ser meramente a reafirmação dos preconceitos culturais da nossa própria cultura. É preciso procurar essas razões com probidade epistémica, procurando genuinamente saber que razões há para aceitar ou rejeitar que um dado comportamento é imoral. A cada passo temos de ver se não estamos a fazer confusões ou apenas a defender o que nos interessa defender, por qualquer motivo injustificável abertamente. E temos de fazer distinções conceptuais cuidadosas, como as seguintes:
1. Os comportamentos não se dividem todos entre moralmente obrigatórios e moralmente impermissíveis; também há actos permissíveis mas que não são obrigatórios. Por exemplo, é moralmente permissível comer maçãs com a mão esquerda, mas não é obrigatório fazer tal coisa. Quando não se tem formação filosófica há tendência para confundir estas categorias e condenar como moralmente impermissível comportamentos diferentes dos nossos só por serem diferentes. Os comportamentos sexuais dos nativos brasileiros, ou a sua nudez, eram muito diferentes dos europeus, e isso levou os europeus a condenar moralmente tais comportamentos; mas seria preciso mostrar primeiro que tais comportamentos têm alguma coisa a ver com a moralidade e não apenas com costumes moralmente neutros. Com certeza que andar nu e andar a matar pessoas na rua são coisas muito diferentes. A primeira pode ser culturalmente chocante, mas daí não se segue que seja imoral. A reflexão filosófica cuidadosa é um bom antídoto para o preconceito provinciano.
2. Os comportamentos prescritos ou condenados por uma dada religião não são sempre moralmente obrigatórios ou impermissíveis. Quando se justifica um dado comportamento ou proibição apelando a um dado texto sagrado, estamos já a excluir todas as pessoas que não pertencem a essa religião nem a consideram uma religião verdadeira. Se quisermos viver moralmente com pessoas que não partilham a nossa religião temos de encontrar uma base comum de entendimento moral, e essa base comum não pode obviamente ser a religião, porque pessoas diferentes professam religiões diferentes e algumas nenhuma. Tem de ser o simples facto de sermos agentes morais a fornecer uma base comum de entendimento moral.
3. A natureza raramente é um bom guia moral. Isto significa que o facto de um dado comportamento ser mais ou menos natural é geralmente irrelevante moralmente. Condenar moralmente comportamentos por não serem naturais é geralmente falacioso, além de ocultar geralmente uma mentira. Vejamos dois exemplos. A homossexualidade é um comportamento comum entre muitos animais; quem condena a homossexualidade por não ser natural ou mente ou é ignorante. Matar os filhos dos outros é um comportamento comum entre leões; mas dificilmente alguém quereria defender a moralidade de tal prática aplicada a nós com base na sua naturalidade. O objecto da moral não é o que é ou deixa de ser natural, mas o que é ou não justificável — e como os leões e outros animais inumanos são incapazes de justificação, não são os melhores guias morais.»                      
Desidério Murcho.


Arquivo íntimo de Nelson Mandela: uma leitura inspiradora

Nelson Mandela Arquivo intimo
Para saber mais, clicar na imagem.
“Dediquei toda a minha vida à luta do povo africano. Tenho lutado contra o domínio dos brancos, tal como tenho lutado contra o domínio dos negros. Sempre defendi o ideal de uma sociedade democrática e livre, em que todas as pessoas possam viver juntas em harmonia e dispor das mesmas oportunidades. É por esse ideal que espero viver para um dia o concretizar. Mas se necessário for, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer.” (Excerto do final do discurso que Nelson Mandela proferiu no banco dos réus no julgamento de Rivonia, a 20 de Abril de 1964)
É fácil ter, independentemente das convicções políticas de cada um, uma enorme admiração por Nelson Mandela – o primeiro presidente eleito democraticamente na África do Sul, que esteve preso mais de vinte e sete anos em nome da luta pelos direitos humanos. Se à partida o leitor já possui alguma consciência da grandeza deste homem, quando acabar de ler este livro, estou certa, esta ideia terá sido reforçada.
Os diferentes textos que fazem parte do “Arquivo íntimo” não foram escritos com o intuito de serem publicados em livro. São cartas, entrevistas, notas (em agendas e blocos de apontamentos) dispersos. Dizem respeito à vida pessoal e política do antigo presidente e foram, só agora, reunidos. Estes documentos encontravam-se arquivados, na sua maior parte, no Centro de Memória e diálogo Nelson Mandela e a sua organização foi coordenada por Verne Harris.
O livro está organizado em quatro partes: pastoral, drama, epopeia e tragicomédia. Em cada uma das partes há capítulos que versam, entre outros, sobre temas como “Comunidade” (capítulo 2) “Não há razão para matar” (capítulo 4); “As cadeias do corpo” (capítulo 6); “Homem inadaptado” (capítulo 7); “Táctica” (capítulo 10); “Tempo de calendário” (capítulo 11) e “Em viagem” (capítulo 13). O prefácio do livro é escrito por Barack Obama, o presidente dos Estados Unidos.
Através das palavras do mais conhecido prisioneiro de Robben Island testemunhamos acontecimentos da história recente da África do Sul. O mais impressionante é a sua capacidade de resistir, com coragem, serenidade, gentileza e lucidez, às mais terríveis adversidades,  físicas e psicológicas. Mandela nunca desistiu de dialogar, mesmo nas condições mais extremas. Perante guardas que tratavam os prisioneiros políticos como seres não humanos, submetendo-os a tortura e a humilhações sistemáticas, ele procura, através de argumentos racionais e de forma persistente, convencê-los a mudar o seu comportamento para com os presos.
Nas cartas e entrevistas transcritas encontram-se reflexões sobre a natureza humana, a política, o sentido da vida, a resistência  às injustiças sociais, o exercício do poder político, por exemplo. A simplicidade e a clareza com que são apresentadas as ideias e a coerência que Mandela tem mantido, ao longo da sua vida,  em relação aos ideais políticos da democracia, da igualdade e da justiça, fazem dele um homem admirável.
Com humildade, ele alerta-nos para a possibilidade de, por ter passado tanto tempo na prisão, ter projectado, involuntariamente, uma falsa imagem de si. E repete, diversas vezes ao longo desta obra, que nunca foi um santo, mas sim um ser humano falível e inseguro.
Como ele próprio explica: “Sempre me movimentei em círculos onde o senso comum e a experiência prática eram importantes, e onde elevadas qualificações académicas não eram necessariamente decisivas. Pouco do que me tinha sido ensinado na faculdade parecia directamente relevante no meu novo ambiente. Qualquer professor médio evitava temas como a opressão racial, a falta de oportunidades para os negros e as inúmeras indignidades a que estão sujeitos na vida do dia-a-dia. Nenhum professor me disse alguma vez como erradicar os malefícios dos preconceitos raciais, nem me indicou livros que eu poderia ler sobre este assunto, ou as organizações políticas a que me poderia associar se quisesse fazer parte de um movimento de libertação disciplinado. Tive de aprender todas estas coisas aleatoriamente e através de tentativas e erros.”                 
Nelson Mandela, “Arquivo íntimo” , Lisboa, 2010, Editora Objectiva, págs. 122 e 27

quarta-feira, 25 de abril de 2012

HOBBES versus ARISTÓTELES: a socialização como problema
O embate das ideias de dois pensadores basilares da tradição filosófica sobre a vida em sociedade se mostra fundamental na reflexão sobre os problemas sociais vividos na contemporaneidade




Imagem: Shutterstock
Desde os primórdios da humanidade, a vida em sociedade é marcada por contradições e conflitos. Na atualidade, este fato está cada vez mais visível, na medida em que assistimos, atônitos, ao alto grau de violência nos grandes centros urbanos. A todo instante, somos conduzidos a crer que a violência faz parte da condição humana, ou seja, que somos naturalmente seres violentos. Com efeito, acreditar nesta premissa torna-se argumentativamente onerosa, pois, como se sabe, nada pode justificar de forma plausível que a violência nos é verdadeiramente inerente.
De fato, no contexto do sistema que emerge na atualidade, as relações humanas encontram-se cada vez mais imersas em atitudes de intolerância, deflagrando assim um empobrecimento das condições de vida. A “boa vida” que Aristóteles apregoa não nos cabe mais? Em nosso cotidiano, não cabe mais pensar na solidariedade? Vivemos numa época de transformações em todos os níveis. Não obstante, estas transformações refletem inexoravelmente na nossa própria capacidade de lidarmos com o semelhante ou o outro. O outro é cada vez mais estranho para nós, ele está mais distante de nossa própria capacidade de compreendermo-nos enquanto indivíduos e cidadãos. Somos mesmo umanimal político? Nossa condição natural é sermos hostis, intolerantes, egoístas e desleais? Como definir o gênero humano?
As respostas a estas indagações devem necessariamente perpassar pelo questionamento das condições e particularidades da natureza humana. Neste viés argumentativo, o problema acerca da natureza humana emerge na História da Filosofia como uma reflexão sobre a própria animalidade do homem. Afinal, o objetivo de uma reflexão sobre a essência da natureza humana não é identificar aquilo que é próprio do homem??
Com o propósito de nos guiar neste assunto tão complexo e rico de argumentos e contra-argumentos torna-se absolutamente necessário um solo firme para que se possa apoiar em vista a alcançar a significação plena da nossa própria natureza e, consequentemente, das explicações para nossos atos e dilemas atuais. Desse modo, a contradição de ideias de Aristóteles e Hobbes nos será fundamental neste objetivo.

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O PROBLEMA ACERCA DA NATUREZA HUMANA EMERGE NA HISTÓRIA DA FILOSOFIA COMO UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÓPRIA ANIMALIDADE DO HOMEM



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A dificuldade em aceitar outras ideias, como as advindas da Religião, é mostra de que o homem é, essencialmente, egoísta e intolerante? Como é possível viver em sociedade desta forma?
A NATUREZA EGOÍSTA DOS HOMENS
O exame proposto pelo filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) acerca da natureza humana ocorre em dois planos que, de certa forma, se complementam. Assim, o Filósofo parte dos primeiros indícios de movimento do homem, em vistas ao conhecimento das paixões e outras faculdades humanas, com o objetivo maior de demonstrar, em um segundo momento, como estas paixões e faculdades determinam o comportamento inevitável do homem em relação aos outros homens, quando removida a obrigação do cumprimento da lei e dos contratos, o estado de natureza.
Desse modo, por meio da descrição do comportamento dos homens neste estado, Hobbes caracterizará a natureza do “homem natural” no plano de interação a partir de dois predicados fundamentais: (a) o primeiro, decorrente da igualdade de condições, é a cobiça natural dos homens proveniente das suas paixões; (b) o segundo, é o desejo que cada homem possui de evitar a morte como o maior dos males da natureza. O primeiro predicado que caracteriza o homem natural “abarca o uso desregrado que faz do seu derredor”, procurando decidir a ferro e fogo a questão do “meu” e do “teu” a seu favor, ignorando, acima de tudo, qualquer prescrição normativa. De acordo com Hobbes, a cobiça humana não conhece limites naturais, de modo que a pergunta acerca do que pertence a um ou a outro homem é decidida pelo poder que cada homem consegue exercer sobre os semelhantes. O segundo predicado explicita a racionalidade da conduta dos homens no estado de natureza, ao passo que os homens violam a palavra dada, quebram acordos ocasionais e “se agridem reciprocamente na medida em que não são capazes de descobrir como irão agir e reagir os seus semelhantes em cada momento, razão pela qual é melhor o ataque do que ser atacado”¹.


Uma Filosofia para consertar o mundo
Grande ícone dos estudos filosóficos sobre o Utilitarismo - a defesa dos animais e a distribuição de renda - o australiano Peter Singer acredita na Filosofia como mediadora dos debates sobre os problemas éticos contemporâneos

Por Laura Talchin
Imagem: Derek Goodwin Photography


Imagem: Derek Goodwin Photography
Figura de destaque nas questões que tangem a Filosofia do Utilitarismo e a defesa dos direitos dos animais, Peter Albert David Singer sempre está envolvido com conceitos filosóficos polêmicos da contemporaneidade. Conhecido por seu trabalho que segue a tradição dos utilitaristas clássicos, suas ideias sobre felicidade, benefícios e danos, interesses e sentimentos se fundam na crença da existência de uma forma de vida que responda à equação segundo a qual o resultado de qualquer ação teria que ser o menor dano causado para o menor número de seres. Australiano, Singer se formou na Universidade de Melbourne e, mais tarde, na Universidade de Oxford. Hoje é professor em Princeton, nos Estados Unidos, mas é também professor laureado na Universidade de Melbourne.
Em sua grande obra Libertação Animal, lançada originalmente em 1975 (e publicada no Brasil em 2004), ele defende que animais também podem sentir dor. Tendo no movimento “Libertação Animal” – não por acaso com o mesmo nome de seu livro –uma de suas principais frentes de estudos e pesquisas, ele se esforça para chamar a atenção para os danos que humanos causam às outras espécies. Para Peter Singer, o mais importante é que o máximo número de seres vivos se beneficie sempre. A Vida Que Podemos Salvar: Agir agora para pôr fim a pobreza no mundo foi publicado no Brasil em 2011, e trata sobre um mundo de riqueza exagerada e pobreza extrema. Para Peter Singer, a Filosofia tem a capacidade de nos lembrar da moralidade para corrigir esse tipo de injustiça e viver melhor. Acredita na necessidade da participação de filósofos nos debates públicos e nas questões práticas e chegou até a se candidatar para o Senado pelo Partido Verde australiano, mas não foi eleito.
Precisamos de políticos representativos preparados para defender os animais e toda a questão em torno deles. Talvez precisemos de alguém como um ombudsman
FILOSOFIA  Na tradição filosófica, os animais nunca foram considerados. Alguns pensadores como Tomás de Aquino e Aristóteles diziam que os animais deveriam servir o homem. Ultimamente, a Filosofia da Mente tem tratado questões como essa, com filósofos como Daniel Dennett, que abordam em seus estudos a cognição animal. Desde quando esse paradigma mudou e qual o espaço e os entraves que encontra no meio filosófico? Você acha que o espaço destinado aos animais na Filosofia hoje é suficiente?
Peter Albert David Singer  Bem, está bem melhor agora que na época de Tomás de Aquino ou Aristóteles! Hoje em dia existem muitos trabalhos sobre animais em Filosofia e Política. E, além disso, agora há uma disciplina de “Estudos de Animais,” que estuda animais do ponto de vista de várias disciplinas, incluindo História, Letras, Sociologia, etc. (Haverá um grande congresso sobre esse assunto em Utrecht, na Holanda, em julho, chamado “Minding Animals.”) Mas é suficiente? Não, particularmente quando se considera o grande número de animais que seres humanos influenciam, em tantas maneiras diferentes, e o número de espécies com capacidades diferentes.
FILOSOFIA  Você argumenta contra o Especismo e defende os direitos de igualdade e os direitos básicos para os animais. De que forma esses direitos deveriam ser assegurados?
Singer  Precisamos que as pessoas sejam informadas sobre essas questões e de um sistema político que responda às preocupações públicas sobre os animais. Questionários com a opinião pública mostram uma forte oposição contra a crueldade com os animais, mas, no geral, as pessoas não são bem informadas sobre o que acontece a eles em lugares escondidos, em fazendas, laboratórios ou matadouros. Precisamos de mais informação, talvez por meio de instalação de webcans nos locais onde animais servem para propostas comerciais. E precisamos de políticos representativos preparados para defender os animais e toda a questão em torno deles. Talvez precisemos de alguém como um ombudsman de animais, algo como um cargo em setor público especificamente para proteção dos animais. Este é o tema do livro de um colega australiano, Siobhan O’Sullivan,Animals, Equality and Democracy.
FILOSOFIA  A sua opinião sobre experimentos com animais é de que, não é que eles não devam ocorrer, mas que o benefício da pesquisa tem que ser maior do que os danos a eles. Como funciona essa equação, na sua visão, o que está errado com os experimentos na atualidade e como acha que deveria ser? 
Singer  O que está errado com experimentos atuais com animais é exatamente que o real valor dos danos não é devidamente considerado. Se fosse, jamais faríamos grande parte dos experimentos com animais que são hoje realizados, muitas vezes para resultados triviais, como o para testar a segurança de colorantes de comida, por exemplo.





Viva dentro dos limites


(Imagem: Shutterstock)
Assim é a vida. Não somos infinitos, por que nos iludir? O dia não tem mais que 24 horas. Não temos uma fonte inesgotável de energia. Os limites são reais, e, a despeito do que à primeira vista possamos imaginar, eles são nossos aliados para superar desafios. A sobrecarga é o inimigo.

Quem pode escapar da sobrecarga? Vivemos em uma era sem precedentes. Nossa época não é apenas diferente das anteriores qualitativamente, mas também quantitativamente. Em 1980, havia em média 12 mil itens nos supermercados. Hoje, são quase 30 mil – incluindo variedades do mesmo produto com rótulos diferentes. Os assinantes de alguns pacotes da TV paga podem escolher assistir a centenas de filmes cada mês. Conforme o leque das escolhas se amplia em nosso mundo pessoal, aumenta a possibilidade de ficarmos sobrecarregados, e, em vez de nos libertar, as escolhas nos aprisionam, entediam e debilitam.

Alguém pode justificar sua extravagância, afirmando: “Posso todas as coisas nAquele que me fortalece” (Filipenses 4:13). Isso significa que você pode voar? Você não pode voar nem ficar seis meses sem comer, tampouco ter saúde, ficando o tempo todo sobrecarregado. Deus não pretendia que essa frase bíblica servisse de pretexto para um comportamento desenfreado. O Criador estabeleceu limites e os colocou dentro de nós para nossa proteção. Quando os ultrapassamos, colocamos a própria vida e a dos outros em perigo.

Compreender o conceito de sobrecarga nos ajuda a lidar com os limites físicos, emocionais e mentais.

Veja como é fácil reconhecer a extrapolação dos limites físicos. Uma sala de estar é agradável quando possui assentos suficientes para acomodar nossos convidados, mas ela se tornaria inviável, se tentássemos ocupá-la com uma quantidade de poltronas ou cadeiras que ultrapassa seu espaço físico. O excesso de mobília torna o ambiente incômodo e impróprio para receber nossas visitas.

O sono pode servir como outro exemplo. Todos temos necessidade de dormir e precisamos respeitar nosso limite de sono. Caso contrário, a fadiga, a exaustão e a fraqueza tomam conta do corpo.

Igualmente, cada pessoa tem seu limite de tolerância para cargas emocionais ou mentais. A extrapolação resulta em ansiedade, hostilidade, depressão ou ressentimentos. E os sintomas se estendem para úlceras, gastrites e crises nervosas.

Não é vontade de Deus que fiquemos sobrecarregados continuamente. Ele sabe que, quando ultrapassamos os limites, corremos o risco de nos tornar pessoas inúteis e infelizes. Temos que refletir... a ideia de que Deus quer que sejamos super-homens ou super-mulheres, usando como desculpa o pensamento de que “posso todas as coisas naquele que me fortalece”.  

Paulo Roberto Pinheiro é jornalista

29

jan
2012

Heráclito e Parmênides


Heráclito e Parmênides
Heráclito nasceu em Éfeso, cidade da Jônia, de família nobre. Desprezava a plebe. Recusou-se intervir na política. Manifestou desprezo pelos antigos poetas, contra os filósofos de seu tempo e até contra a religião. Heráclito escreveu um livro Sobre a Natureza,ele recebeu o nome de "o obscuro". E é considerado o mais eminente pensador pré-socrático.
O principio universal de Heráclito é que: tudo se move e que nada permanece estático. Panta Rhei, sua "máxima", significa " tudo flui" , tudo se move, exceto o próprio movimento. A designação mais exata que podemos usar é o devir. Ele exemplifica dizendo que, não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, porque ao entrarmos pela segunda vez, não serão as mesmas águas que lá estarão, e a própria pessoa já será diferente. Mas a doutrina de Heráclito vai além. O devir, a mudança que acontece em todas as coisas, é sempre uma alternância entre os contrários: coisas quentes esfriam e coisas frias esquentam, etc. A realidade acontece então, não em uma das alternativas, que são apenas partes da realidade, e sim mudanças, ou como ele chama, guerra dos opostos. Tal guerra é que permite a harmonia e mesmo a paz, já que assim os contrários passam a existir: a doença faz da saúde algo agradável e bom, ou seja, se não existisse a doença não teria porque valorizar a saúde.
Heráclito como um dos pré-socráticos definiu uma arché, um principio de todas as coisas: o fogo. Para ele "todas as coisas são uma troca de fogo, e o fogo uma troca de todas as coisas", ou seja, todas as coisas se transformam em fogo, e o fogo se transforma em todas as coisas.Para Parmênides o fogo é definitivamente o elemento primordial.

Parmênides

Parmênides de Eléia (530-460 a.C.), deixou suas idéias em um poema Sobre a Natureza. Existem três vias de investigação que Parmênides nos apresenta, as quais são: Caminho da Verdade, Caminho da Opinião e o Caminho da Opinião Plausível. Primeiramente iremos estudar a filosofia de Parmênides de maneira geral, e em seguida, estudaremos separadamente os três caminhos de investigação apresentados por Parmênides.
Parmênides ele afirma que o ser é; e de maneira muito simples ele justifica essa afirmação.Ele diz que "tudo aquilo que alguém pensa e diz é. Não se pode pensar senão pensando aquilo que é. Pensar o nada significa não pensar absolutamente, e o dizer o nada significa não dizer nada. Portanto o nada é impensável e indizível". (REALE, 1990, 51). Parmênides também atribui ao ser algumas características: ele é eterno, imutável, uno incorruptível, incorruptível e indivisível. Parmênides afirma que o ser não pode ser gerado, nem corrompido, pois se ele for gerado, existirá dois seres, o que é impossível para Parmênides pois, ele diz que o ser é, logo não pode ser criado. Ele também afirma que o ser não poder se corruptível, pois se o ser se corromper significa que ele é finito, logo ele morrerá. Com isso o ser terá que nascer , contradizendo assim a afirmação anterior.
Parmênides tem como principio de sua filosofia a ontologia, que é o estudo do ser enquanto ser. A partir do momento que Parmênides deixa de estudar a phýsis, enquanto uma causa de origem, e passa a estudar o ser enquanto ser, ele rompe com os demais pré-socráticos, e passa de cosmologia para a ontologia.
Parmênides também enfrentou um grande problema, os mortais não conseguiram compreender a sua filosofia; não compreenderam que os opostos deveriam ser pensados e incluídos como unidade superior do ser.

O Caminho da Verdade: O ser é

Parmênides indica que na via da verdade, o homem se deixa conduzir apenas pela razão. Nessa primeira via, ele afirma o principio ontológico da identidade. Este princípio pode assumir a formulação: o ser é, e o não ser não é.
Só por meio da razão, é possível desvelar a verdade e a certeza. Através desta afirmação o homem pode evidenciar que: o que é é; e o que é não pode deixar de ser.
Na segunda afirmação, o principio evidenciado é o da imutabilidade. O ser é demonstrado com todo rigor lógico: o que é é, sendo o que é, tem que ser único, "além do que" só existiria, se fosse possível o diferente dele: o que não é. O qual seria absurdo afirmarmos, pois assim estaríamos atribuindo a existência do não-ser.
Parmênides diz que, ao se comprometer com a via da verdade, o homem sábio perceberá que há indícios sobre o que é o ser. O ser é, portanto, alheio a todo devir, está além de toda geração e corrupção, é uno e continuo, indivisível, igual ao todo, não pode ser mais o menos que ele mesmo. O ser é imóvel; o ser é perfeito.
Em Parmênides, o um é o todo, e o todo é um. Se existissem dois todos, um limitaria a abrangência do outro. Como o ser é infinito, ilimitado, só pode ser um.
Historicamente, Parmênides extraiu a noção de unidade das cosmogonias precedentes, tanto mítica quanto filosófica, mas elaborou à sua maneira. Parmênides tirou desses princípios cosmogônicos seu rigor lógico que centraliza na noção de unidade. Diante de tudo, Parmênides optou pela unidade, pelo absoluto, pelo ser, rejeitando tudo que se pudesse se contrapor.
O Caminho da Opinião: Pensar x Perceber
Percebe-se que, para Parmênides não existe ilimitada possibilidade de investigação, há poucos requisitos a se levar em conta que para o conhecimento da verdade. Além desse caminho apenas resta a via da opinião, e a via do engano, da qual ele nos manda afastar o pensamento, pois não se chega à verdade permanente no nível da opinião.
Parmênides foi o primeiro filósofo a afirmar que o mundo percebido por nossos sentidos é um mundo ilusório, de aparências. Ele também foi o primeiro a contrapor a esse mundo mutável. A aparência sensível das coisas da natureza não possui a realidade. Parmênides foi o primeiro a contrapor o ser ao não ser, concluindo que o não-ser não é.
Parmênides afirmava era a diferença entre pensar e perceber. Perceber é ver as aparências. Pensar é contemplar o ser. Assim, multiplicidade, mudança, nascimento e perecimento são aparências, ilusões de sentido.
O poema de Parmênides declara que: ser, pensar e dizer são uma coisa só. Essa é a via da verdade "alethéia". Já a via da opinião não pode ser percorrida, porque não pode ser pensada e nem dita. Parmênides estabelece a identificação entre o que é o ser,o que é o pensar, e o que é o dizer, de modo que, "o que é", é o que pode ser pensado e dito; enquanto que o "que não é", não pode ser pensado e nem dito. O ser pode ser pensado e dito; o não-ser não pode ser pensado e nem dito.
Nesse sentido o pensamento de Parmênides tornou a cosmologia impossível, pois ao afirmar que o pensamento verdadeiro exige uma identidade a não-transformação e a não-contradição. Ele afirma que o ser não muda e não tem o que mudar, porque se mudasse deixaria de ser o que é, tornando-se oposto a si mesmo - o não-ser. Mostrou que o ser é uno e que o pensamento verdadeiro não admite a multiplicidade ou a pluralidade, não admitindo, portanto a cosmologia. Ao abandonar as idéias de multiplicidade, de mudanças, de vir a ser e perecimento, sua filosofia deu uma virada radical, passando da cosmologia à antologia.
Caminho da Opinião Plausível
Este caminho - da opinião plausível - deve dar conta do aspecto positivo, das aparências sem contradizer o principio fundamental, de que o ser e o não-ser não podem ser admitidos juntos. A solução seria a de que o mundo físico o que se apresenta como não-ser nunca é não-ser em absoluto, mas é permeado pelo ser. Segundo Parmênides é possível ter a opinião plausível, porque os opostos do ser e do não-ser no mundo visível podem ser pensados como estando incluídos na unidade do ser -ambos são seres. Vamos tomar como exemplo a luz e a noite; com nenhum dos dois, segundo Parmênides está o nada. O mesmo acontece com a vida e a morte, pois também o cadáver para Parmênides, vive.
Essa tentativa foi feita por Parmênides para salvar os fenômenos. Se luz e noite; vida e morte; são ser, e o ser é idêntico, como considera Parmênides, então elas devem ser idênticas, o mesmo se sucede com todos os opostos. Os fenômenos, assumidos no ser, precisavam ser igualados e imobilizados, como que petrificados pela fixidez do ser. Parmênides salva assim o ser, mas não parece ter tido a mesma sorte no esforço d salvar os fenômenos.
Conclusão
Diante no que nos foi apresentado podemos concluir que, para Heráclito tudo está em constante devir, ou seja, em constante movimento. E em Parmênides, temos a ontologia; o ser é. Parmênides nos diz que o ser é imutável, não pode ser gerado; sendo assim, ele também afirma que não pode existir o vir-a-ser.
Resumindo
DEVIR
Três sentidos se dão ao vocábulo Devir (ou VIR-A-SER):

1 - A mudança considerada em si mesma, como processo e passagem de um estado a outro. Nesse sentido está em oposição aos estados estáticos e per-feitos que servem como ponto de referência.

2 - Uma série de mudanças de modos de Ser. Nesse sentido está em oposição ao Ser enquanto imutável.
(LALANDE 1999, p. 253)

3 - Uma forma especial de mudança, que vai do Nada ao Ser ou do Ser ao Nada. Nesse sentido se opõe ao Ser enquanto imutável, mas não o nega, aliás, o confirma. (ABBAGNANO 1998, p. 268.)
Significação
Significando tanto processo do Ser (sentido 2 e 3) quanto o Ser enquanto processo (sentido 1), o Devir se contrapõe à noção do Ser imóvel e estabelece o conceito de mudança como constituinte do real. É o acontecer, o ir sendo, mover-se, transformar-se, o passar.

É preciso, no entanto, abordar a questão da mudança e do sentido desta mudança. Considerar o Devir de forma teleológica é considerá-lo um processo finalístico (sentido 3), enquanto que é possível, tanto quanto necessário, considerá-lo também estado de contínua e simples transformação: indistinção, caos... (sentido 2)

Toda a filosofia se viu embrenhada no problema do Devir. Inapreensível pela racionalidade pelo simples fato de não ter uma razão suficiente ou necessária detectável, o Devir foi e é um problema recorrente até os dias atuais. Poderíamos dizer que a Filosofia nasce perante a problematização do Devir como realidade sensível, assim como se desenvolve na problematização do homem diante dessa percepção.

A questão do Devir está para além da questão do fundamento; do que é primário e persiste contra o que é transitório e derivado. A questão do Devir está no que se constitui a percepção da mudança: se ela é constituinte do fundamento ou se é derivada dele e, portanto, transitória.
Algumas Concepções
Tales de Mileto ao definir seu arché (Princípio) a partir das propriedades da água, explica o Devir como resultado da propriedade úmida de todos os viventes. Contrapondo-se à percepção de que tudo o que é seco tende a ser rígido, estático e imóvel, somente a umidade explicaria a mudança, a transformação e a geração das coisas. "A secagem total significa a morte" (REALE e Antiseri 1990, p. 30).

Anaximandro de Mileto, por sua vez, discípulo de Tales, preconiza que a propriedade representada pela água é ainda derivado e estabelece como princípio o que ele chama de a-peiron, o privado de limites, o indistinto, infinito. Não seria ele o caos? Não estariam voltando, agora racionalmente, à explicação já dada (porém a partir de uma alegoria mais fantasiosa) pelos mitos hesiódicos e homéricos?

Encontrar a qualidade da qual a realidade se constitui para explicar a origem do Devir foi o grande empreendimento da escola jônica e, nela, encerra-se uma continuidade da racionalização do mito empreendida por Homero e Hesíodo.

Concomitante a essa visão, nasce ou incorpora-se outra concepção que subverte a tradição grega e contradiz o esquema racional até então mitificado: aparece o orfismo. Dele, os pitagóricos inauguram uma cosmogonia que encerra, teleologicamente, o Devir como subproduto, um acidente de uma Unidade perfeita. O Devir, por essa concepção, não faz parte da realidade e sim constitui-se um desvio, um acidente de como ela se manifesta para os homens comuns.

Pitágoras rejeita a indistinção como Caos e a postula como Unidade. Porém é uma Unidade diferente daquela proposta pela escola jônica. É uma Unidade em que a indistinção é apenas a caracterização de um Sentido e não de uma propriedade qualitativa do princípio.

Com Pitágoras o estatuto mítico-religioso órfico ganha uma concepção filosófica e estabelece uma racionalidade teleológica salvacionista em busca, não só da compreensão, mas da própria vivência dessa Unidade como Verdade e suprema realidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socrático a Aristóteles. Vol. I 2º ed.- São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
Pré-socráticos. Seleção de textos. Trad. José Cavalcante de Souza e outros. São Paulo: Nova Cultura, 2000. - (Col. Os Pensadores)
REALE, Giovanni / ANTISERI, Dario. História da Filosofia: antiguidade e idade media. Vol. I. São Paulo: Paulus, 1990.
LUCE, John Victor. Curso de Filosofia Grega. Trad. Mário da Gama Kury. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,1994.

O Conceito de “Esclarecimento” Segundo Kant

O Conceito de “Esclarecimento” Segundo Kant  Immanuel Kant escreve um artigo tentando responder a pergunta “O que é  esclarecimento ?”...